08.05.2013 Views

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

a realização <strong>de</strong> estudos, pesquisa e trabalho <strong>de</strong> relevante interesse social<br />

e cultural dos costumes açorianos” 70 . Isso também dizia respeito à sua<br />

interferência no processo. Apresentou-nos outros documentos por ele<br />

consi<strong>de</strong>rados preciosos, tais como o registro <strong>de</strong> nascimento e fotografias<br />

antigas <strong>de</strong> seu pai, que foi prefeito <strong>de</strong> Camboriú, nomeado por Nereu<br />

Ramos entre os anos <strong>de</strong> 1938 e 1942, as informações genealógicas sobre<br />

seu bisavô, que foi “<strong>de</strong>marcador <strong>de</strong> terras pago pela Coroa portuguesa”,<br />

as fotografias tiradas nas reuniões da entida<strong>de</strong>. Depois <strong>de</strong>stacou: “Tudo<br />

começou com um bate-papo e eu mostrando a minha velharia” 71 .<br />

O fato <strong>de</strong>, na Festa das Tradições, estarem presentes expositores<br />

<strong>de</strong> Araquari e não da Açoriana foi justificado pelo regime <strong>de</strong> colaboração<br />

estabelecido entre as duas entida<strong>de</strong>s. Coube aos açorianos joinvilenses<br />

a venda <strong>de</strong> pratos típicos que foram especialmente produzidos pelo<br />

proprietário <strong>de</strong> <strong>uma</strong> rotisseria em <strong>Joinville</strong> que, segundo nosso<br />

entrevistado, estava mais interessado em “ven<strong>de</strong>r o seu peixe” na<br />

festa.<br />

As narrativas do Sr. Wilmar <strong>de</strong> Souza e do Sr. Eli Francisco<br />

sinalizaram-me questões relacionadas ao uso da metodologia da<br />

história oral na pesquisa. Diferentes explicações sobre a criação da<br />

Açoriana exigiam-me refletir sobre as subjetivida<strong>de</strong>s dos relatos dos<br />

nossos entrevistados. Diante disso, reverberava a premissa sobre o<br />

caráter distorcido da fonte oral, premissa essa bastante discutida pelos<br />

historiadores. Mais do que um problema, tal caráter é consi<strong>de</strong>rado como<br />

<strong>uma</strong> rica possibilida<strong>de</strong> para a interpretação histórica. Para o estudioso<br />

Alessandro Portelli, a história oral explicita que “as fontes são pessoas” 72<br />

que, ao serem motivadas a narrar, expressam o significado <strong>de</strong> suas<br />

experiências por meio dos fatos. Por isso, também para o autor, o método<br />

narrativo é um processo <strong>de</strong> construção i<strong>de</strong>ntitária, pois o narrador ao<br />

recordar e contar interpreta seus vínculos com os outros e com os fatos.<br />

As narrativas sobre o fato “criação da Açoriana” exprimiam recordações<br />

que exalavam subjetivida<strong>de</strong>s e i<strong>de</strong>ntificações, justificadas seja pela<br />

origem, seja pelo protagonismo na criação da entida<strong>de</strong>. Se aconteceu<br />

70 AÇORIANA. ata <strong>de</strong> fundação da socieda<strong>de</strong> Beneficente e Cultural dos <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes<br />

<strong>de</strong> açorianos da região norte/nor<strong>de</strong>ste <strong>de</strong> santa Catarina. <strong>Joinville</strong>, 4 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong><br />

2002.<br />

71 Id. Ibid.<br />

72 PORTELLI, Alessandro. A filosofia e os fatos – narração, interpretação e significado nas<br />

memórias e nas fontes orais. tempo, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 1, n. 2, p. 59-72, 1996.<br />

63

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!