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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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mesmo os militantes da causa negra. A invisibilida<strong>de</strong>, portanto, revela-se<br />

como dispositivo <strong>de</strong> negação e, por seu intermédio, <strong>de</strong> reprodução do<br />

racismo em terras catarinenses. Por outro lado, aflui para a produção<br />

e a disseminação <strong>de</strong> alguns mitos, entre eles o <strong>de</strong> que a escravidão<br />

em Santa Catarina, quando eventualmente ocorreu, foi mais branda,<br />

já que o senhor <strong>de</strong> poucos escravos trabalhou junto com eles.<br />

A presença dos negros em <strong>Joinville</strong> remonta aos anos anteriores<br />

à imigração europeia para a região no século XIX. Com base no<br />

trabalho <strong>de</strong> Denize Aparecida da Silva 50 , é possível verificar como os<br />

negros foram <strong>de</strong> extrema importância para a produção nos engenhos <strong>de</strong><br />

farinha <strong>de</strong> mandioca na região que englobava, na época, São Francisco<br />

do Sul e <strong>Joinville</strong>. Além disso, tal estudo, ao permitir conhecer as<br />

sociabilida<strong>de</strong>s presentes nesse processo, combate a invisibilida<strong>de</strong><br />

negra na região e o menosprezo a um passado que <strong>de</strong>sconstrói a<br />

i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong> como <strong>de</strong>sdobramento natural da saga imigrantista<br />

europeia.<br />

Porém não basta a constatação <strong>de</strong> que os <strong>de</strong>coradores do estan<strong>de</strong><br />

não levaram em conta a produção historiográfica para justificar a<br />

pertinência étnica africana na história da ocupação territorial <strong>de</strong><br />

<strong>Joinville</strong>. A sugestão dos autores do texto “Escravidão e preconceito<br />

em Santa Catarina: história e historiografia” estimulou-me a buscar<br />

outras respostas para a intencional abordagem étnico-vitimária dos<br />

negros expressa pelo estan<strong>de</strong>, já que:<br />

55<br />

Na <strong>de</strong>sconstrução <strong>de</strong>sta imagem <strong>de</strong> “bela e loira<br />

Catarina”, acreditamos que se torna necessário,<br />

nos dias <strong>de</strong> hoje – para além <strong>de</strong> <strong>uma</strong> tentativa<br />

<strong>de</strong> encontrar especificida<strong>de</strong>s que expliquem, num<br />

passado escravocrata, as relações hierarquizadas<br />

entre brancos e negros [...] –, procurar perceber<br />

como tem sido interpretado esse passado e levantar<br />

a problemática da invisibilida<strong>de</strong> das populações<br />

negras em Santa Catarina 51 .<br />

50 SILVA, Denize Aparecida da. “Plantadores <strong>de</strong> raiz”: Escravidão e compadrio nas freguesias<br />

<strong>de</strong> Nossa Senhora da Graça <strong>de</strong> São Francisco do Sul e <strong>de</strong> São Francisco Xavier <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong><br />

– 1845/1888. 2004. 121 f. Dissertação (Mestrado em História) – Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação<br />

em História, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná, Curitiba, 2004.<br />

51 PEDRO, Joana Maria et al. escravidão e preconceito em santa Catarina: história e<br />

historiografia. Florianópolis: UFSC, 1996. p. 243.

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