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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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socieda<strong>de</strong> – permite não apenas evocar novas memórias, como produzir<br />

esquecimentos capazes <strong>de</strong> validar o que é vivido como necessida<strong>de</strong> ou<br />

aspiração. Ora, isso contribui para a nossa análise a respeito <strong>de</strong>sse tenso<br />

e controverso cruzamento <strong>de</strong> avaliações sobre o passado <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>.<br />

Ainda segundo Hartog, trata-se da dimensão do “presente<br />

hipertrofiado”, ou seja, um presente que é capaz <strong>de</strong> gerar seu próprio<br />

passado e futuro, que é fruto das nossas experiências contemporâneas<br />

perante as solicitações do mercado e do consumo, das mudanças<br />

científicas e tecnológicas e dos ritmos das mídias. Po<strong>de</strong>ria também<br />

agregar a esses aspectos as nossas experiências diante das fronteiras<br />

movediças, porosas e flexíveis dos territórios urbanos. O espaço da<br />

cida<strong>de</strong> contemporânea é cada vez mais palco <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> social,<br />

transformando as nossas percepções sobre nós mesmos e sobre os outros,<br />

cuja presença imaginamos provisória. Com isso, cada vez mais tornamos<br />

tudo obsoleto, até mesmo acontecimentos e pessoas.<br />

Ao interpretar o <strong>de</strong>poimento do Sr. Wilmar <strong>de</strong> Souza, é possível<br />

dizer que sua indignação ao confessar o seu empenho e investimento<br />

para a organização do estan<strong>de</strong> alemão na Festa das Tradições confirmava<br />

o trabalho <strong>de</strong> enquadramento do passado voltado ao reforço dos usos<br />

<strong>de</strong> <strong>uma</strong> história etnicizada que teria agregado à cida<strong>de</strong> <strong>uma</strong> “marca”<br />

cultural. Além disso, havia a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manter o tributo a <strong>uma</strong><br />

“essência” cultural urbana agonizante e agora enjeitada. O imperativo<br />

do presente, talvez, levava-o a reconhecer a obsolescência <strong>de</strong>ssa trama.<br />

A sua afirmação sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um olhar mais acurado<br />

acerca do passado <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong> permitiu-me enten<strong>de</strong>r que, para ele,<br />

a notória diversida<strong>de</strong> cultural do presente <strong>de</strong>veria instituir um novo<br />

passado a ser legado para o futuro urbano. Penso que as sinuosas<br />

trajetórias <strong>de</strong> <strong>migrante</strong>s têm muito a revelar sobre essa investida rumo<br />

à domesticação do passado e do futuro joinvilenses, sob o impulso<br />

<strong>de</strong>sse presentismo.<br />

Voltemos ao meu itinerário festivo. O estan<strong>de</strong> seguinte não se<br />

referia a <strong>uma</strong> nação ou etnia, mas a um continente: África. O panô<br />

exibia <strong>de</strong>senhos com leões, girafas e elefantes. Tapetes supostamente<br />

feitos <strong>de</strong> peles <strong>de</strong> animais forravam o chão. Um sofá no centro servia <strong>de</strong><br />

suporte para xales <strong>de</strong> seda, e a seu lado havia um baú sobre <strong>uma</strong> canga<br />

colorida. O cenário aparentava a intenção dos <strong>de</strong>signers do ambiente<br />

em realçar certo exotismo cultural, talvez já visto em algum filme <strong>de</strong><br />

aventura na selva. Ao fundo, cinco gran<strong>de</strong>s painéis apresentavam a<br />

história da África e faziam parte do <strong>de</strong>nominado “museu itinerante”<br />

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