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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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que dominava a paisagem <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s como Massaranduba, Guaramirim<br />

e Jaraguá do Sul, abrangendo também a região sudoeste <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong><br />

nos bairros <strong>de</strong> Vila Nova e Morro do Meio. O processo <strong>de</strong> urbanização<br />

e a atração pelo trabalho industrial teriam dispersado os integrantes<br />

<strong>de</strong>ssa “colônia italiana”, diluindo seus costumes e tradições. Por isso,<br />

naquele momento, saudava o primeiro aniversário da Associação Vêneta<br />

<strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>, a qual teria como objetivo não apenas reviver a tradição<br />

itálica no ambiente urbano, mas também escrever essa história ainda a<br />

ser conhecida pelos joinvilenses.<br />

Mesmo consi<strong>de</strong>rando que o então <strong>de</strong>putado expressava seu gosto<br />

– quase sempre recorrente em pronunciamentos públicos – por passados<br />

afetuosos e imaginariamente relevantes, suas palavras traduziam um<br />

esforço para encontrar o “elo perdido” da italianida<strong>de</strong> joinvilense, sem<br />

o qual comprometia a própria relevância da associação recém-criada.<br />

Na Festa das Tradições esse percurso imaginado não aparentava<br />

importância. Diante do <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ostentar <strong>Joinville</strong> como cida<strong>de</strong><br />

“cosmopolita”, os ítalo-joinvilenses empenhavam-se em articular outras<br />

referências étnicas para <strong>de</strong>marcação <strong>de</strong> suas distintivida<strong>de</strong>s urbanas. A<br />

discussão <strong>de</strong> Stuart Hall sobre as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s culturais no contexto da<br />

globalização soava-me como <strong>uma</strong> advertência para possíveis conclusões<br />

apressadas e superficiais.<br />

Mesmo consi<strong>de</strong>rando que diante das transformações do final do<br />

século XX ficou cada vez mais evi<strong>de</strong>nte que o nacional se constitui como<br />

<strong>uma</strong> entre outras “paisagens culturais” que marcam a fragmentação dos<br />

referenciais i<strong>de</strong>ntitários 33 , etnia, segundo Hall, é um termo que tem sido<br />

utilizado para tentativas <strong>de</strong> unificar, i<strong>de</strong>ntificar e representar <strong>uma</strong> dada<br />

cultura nacional como <strong>uma</strong> “comunida<strong>de</strong> imaginada” 34 .<br />

Ao procurar distinguir-se como etnicamente italianos <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>,<br />

aquelas pessoas por certo “traduziam”, no sentido atribuído por Hall,<br />

a italianida<strong>de</strong>, ou seja, atravessavam e interconectavam fronteiras<br />

territoriais, culturais e históricas, produzindo culturas híbridas, sob<br />

roupagem e impulso unificadores.<br />

33 Conforme Hall, “a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> plenamente unificada, completa, segura e coerente é <strong>uma</strong><br />

fantasia. Ao invés disso, à medida em que os sistemas <strong>de</strong> significação e representação cultural<br />

se multiplicam, somos confrontados por <strong>uma</strong> multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sconcertante e cambiante<br />

<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s possíveis, com cada <strong>uma</strong> das quais po<strong>de</strong>ríamos nos i<strong>de</strong>ntificar – ao menos<br />

temporariamente”. HALL, Stuart. a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural na pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Tradução <strong>de</strong><br />

Tomaz Ta<strong>de</strong>u da Silva e Guacira Lopes Louro. 6. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: DP&A, 2001. p. 13.<br />

34 Id. Ibid. p. 58.

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