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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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havia balões coloridos, quadros com paisagens italianas e brasões e, em<br />

<strong>de</strong>staque, um banner que conclamava os visitantes a se tornarem sócios<br />

do Circolo Italiano di <strong>Joinville</strong> 30 . Um imenso panô guarnecia a fachada<br />

do estan<strong>de</strong>. Nele estavam <strong>de</strong>senhadas as “riquezas” culturais italianas<br />

consi<strong>de</strong>radas importantes pelos responsáveis pela <strong>de</strong>coração para acionar<br />

a atenção do visitante: a torre <strong>de</strong> Pisa, a Ponte dos Suspiros veneziana e o<br />

Coliseu, intercalados com <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong> <strong>uma</strong> máscara alusiva ao carnaval<br />

<strong>de</strong> Veneza, um “fragmento da obra pintada por Michelangelo” e um rótulo<br />

do mais “puro óleo <strong>de</strong> oliva” da “Toscana-Calábria-Sicília”.<br />

Pareceu-me que aquele cenário eclético tinha por intenção oferecer<br />

variadas opções para que o observador rapidamente pu<strong>de</strong>sse reconhecer<br />

fragmentos <strong>de</strong> <strong>uma</strong> italianida<strong>de</strong> ao mesmo tempo local e universal. Curiosa,<br />

entretanto, era a força festiva com que se apresentava essa etnia, já que<br />

<strong>Joinville</strong> não foi <strong>de</strong>stino para i<strong>migrante</strong>s italianos em nenhum período<br />

anterior. Por outro lado, a trajetória <strong>de</strong> relocalização <strong>de</strong> famílias <strong>migrante</strong>s<br />

provenientes <strong>de</strong> outras cida<strong>de</strong>s catarinenses foi, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> meados dos anos<br />

<strong>1980</strong>, adotada como marco <strong>de</strong> origem da italianida<strong>de</strong> urbana 31 .<br />

Num artigo intitulado “A memória italiana”, publicado em 1992,<br />

o então <strong>de</strong>putado fe<strong>de</strong>ral Luiz Henrique da Silveira confessava sua<br />

dificulda<strong>de</strong> em restabelecer “os principais fatos ligados ao advento dos<br />

italianos em <strong>Joinville</strong>” 32 . Sem registros históricos, associou tal origem<br />

à instalação <strong>de</strong> agricultores <strong>de</strong> arroz ao longo <strong>de</strong> <strong>uma</strong> faixa <strong>de</strong> várzea<br />

30 Conforme o relato do seu presi<strong>de</strong>nte honorário, Moacir Bogo, o Circolo, embora tenha<br />

sido registrado como entida<strong>de</strong> em 1995, foi resultado <strong>de</strong> encontros informais <strong>de</strong> <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes<br />

<strong>de</strong> italianos em <strong>Joinville</strong> ocorridos em 1988. Cf.: BOGO, Moacir. Depoimento. entrevista<br />

concedida a diego Fin<strong>de</strong>r machado e ilanil Coelho. <strong>Joinville</strong>, 6 nov. 2007.<br />

31 Consi<strong>de</strong>ro a italianida<strong>de</strong> joinvilense como <strong>uma</strong> etnicida<strong>de</strong> e, portanto, explicito, inicialmente,<br />

alguns referenciais adotados. Philippe Poutignat e Streiff-Fenart, apoiando-se na teoria <strong>de</strong> Fredrik<br />

Barth, pon<strong>de</strong>ram que a emergência <strong>de</strong> grupos étnicos se efetiva pelo princípio da alterida<strong>de</strong><br />

(nós/eles), ou seja, a pertença étnica configura-se em relação a <strong>uma</strong> linha <strong>de</strong> <strong>de</strong>marcação entre<br />

os membros e os não-membros. Quatro questões-chave constituem o conceito da etnicida<strong>de</strong>:<br />

1) o problema da atribuição categorial pelo qual os atores se i<strong>de</strong>ntificam e são i<strong>de</strong>ntificados<br />

pelos outros; 2) o problema das fronteiras do grupo, por on<strong>de</strong> se dá a dicotomização nós/eles;<br />

3) o problema da origem comum, relativo aos símbolos i<strong>de</strong>ntitários do grupo; 4) o problema<br />

do realce, pelo qual os traços étnicos são <strong>de</strong>stacados. Todas essas questões evi<strong>de</strong>nciam que<br />

a etnicida<strong>de</strong> é <strong>uma</strong> construção <strong>de</strong> sujeitos no <strong>de</strong>curso das interações sociais. POUTIGNAT,<br />

Philippe. teorias da etnicida<strong>de</strong>. São Paulo: Unesp, 1998.<br />

32 Confessava ele que a industrialização e a urbanização teriam provocado o quase <strong>de</strong>saparecimento<br />

<strong>de</strong> costumes e tradições dos italianos-joinvilenses, não fosse a iniciativa <strong>de</strong> alguns <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes<br />

em promover o intercâmbio cultural e <strong>de</strong> rememoração <strong>de</strong> canções, comidas típicas e danças.<br />

Porém o <strong>de</strong>safio maior era “refazer toda a história da colônia itálica em <strong>Joinville</strong>”. SILVEIRA,<br />

Luiz Henrique. A memória italiana. a notícia, <strong>Joinville</strong>, p. 2, 6 set. 1992.<br />

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