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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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A partir <strong>de</strong> meados <strong>de</strong> <strong>1980</strong>, <strong>Joinville</strong> passa a revelar<br />

mais intensamente os <strong>de</strong>sdobramentos das suas transformações<br />

econômicas, sociais e culturais. A reestruturação das suas indústrias<br />

e, por consequência, do emprego industrial, a incorporação das novas<br />

tecnologias, não apenas na atualização dos processos produtivos<br />

e comunicacionais, mas nas várias dimensões da vida urbana, e a<br />

implementação <strong>de</strong> projetos políticos e empresariais voltados à expansão<br />

do setor <strong>de</strong> serviços – para citar apenas alguns <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>sdobramentos<br />

– inci<strong>de</strong>m sobre os <strong>de</strong>slocamentos h<strong>uma</strong>nos para a cida<strong>de</strong> 20 e também<br />

sobre os multifacetados relacionamentos sociais da urbe. Novos hábitos<br />

<strong>de</strong> consumo e lazer, novos processos <strong>de</strong> localização 21 , novos encontros e<br />

<strong>de</strong>sencontros (ocasionando estranhamentos e intolerâncias) contribuem<br />

para o entendimento <strong>de</strong> alg<strong>uma</strong>s das inquietações subjetivas e coletivas<br />

que enevoam a feitura e a realização da festa. Como já <strong>de</strong>stacado, diante<br />

<strong>de</strong> um presente lúbrico e <strong>de</strong> um futuro incerto, o passado po<strong>de</strong>ria ser<br />

acionado. Porém não se trata <strong>de</strong> acioná-lo apenas pela mediação dos<br />

historiadores, mas pela própria configuração do presente.<br />

Supostamente encaixilhada em tempo e espaço próprios e<br />

resguardada das turbulências cotidianas, a Festa das Tradições <strong>de</strong><br />

<strong>Joinville</strong> prometia ser portadora e realizadora <strong>de</strong> anseios. De um lado,<br />

propiciaria a exposição <strong>de</strong> <strong>uma</strong> convivência cordial e pacífica <strong>de</strong> sujeitos<br />

20 Num estudo sobre a evolução <strong>de</strong>mográfica <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>, Barbosa e Oliveira <strong>de</strong>stacam que a<br />

cida<strong>de</strong> estava, em 1950, apenas na décima posição no ranking dos municípios mais populosos<br />

do Estado <strong>de</strong> Santa Catarina, passando a ocupar o primeiro posto a partir <strong>de</strong> <strong>1980</strong>. Com base<br />

na análise <strong>de</strong> dados do IBGE, a migração foi o principal fator <strong>de</strong> crescimento <strong>de</strong>mográfico.<br />

BARBOSA, Wilson Roberto; OLIVEIRA, Fabiano Antonio. A evolução <strong>de</strong>mográfica <strong>de</strong><br />

<strong>Joinville</strong>: 1970-2000. revista Univille, <strong>Joinville</strong>, v. 8, n. 2, p. 72-85, <strong>de</strong>z. 2003.<br />

21 Gupta e Ferguson fazem <strong>uma</strong> crítica à forma como os cientistas sociais trataram as noções<br />

<strong>de</strong> espaço, território e local nos estudos sobre a diferença cultural. Segundo eles, é preciso<br />

que se rompa com o isomorfismo dos termos espaço, lugar e cultura, já que ele não permite<br />

abordar a diferença cultural em relação àqueles que vivem em fronteiras ou constantemente<br />

as cruzam. Outro problema é que, diante das proposições conservadoras relacionadas ao<br />

“multiculturalismo”, tal isomorfismo “naturaliza” as culturas, concebidas como unida<strong>de</strong>s<br />

coerentes e autônomas. Por fim, há o impedimento da compreensão “<strong>de</strong> que os espaços sempre<br />

estiveram interligados hierarquicamente, em vez <strong>de</strong> naturalmente <strong>de</strong>sconectados”. A mudança<br />

cultural e social, então, “não se torna mais <strong>uma</strong> questão <strong>de</strong> contato e <strong>de</strong> articulação cultural, mas<br />

<strong>de</strong> repensar a diferença por meio da conexão”. A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> localização, assim, liga-se a processos<br />

pelos quais os sujeitos “participam em primeira instância da construção do espaço como lugar<br />

ou localida<strong>de</strong>”. Isso possibilita o “repensar as políticas <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>, solidarieda<strong>de</strong>, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

e diferença cultural” na contemporaneida<strong>de</strong>. Por outro lado, lembram-nos que a territorialização,<br />

ironicamente, continua a ser <strong>uma</strong> produção social ancorada simbolicamente n<strong>uma</strong> concepção<br />

“que liga comunida<strong>de</strong>s imaginadas a lugares imaginados”. GUPTA, Akhil; FERGUSON, James.<br />

Mais além da “cultura”: espaço, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e política da diferença. In: ARANTES, Antonio A.<br />

(Org.). o espaço da diferença. Campinas: Papirus, 2000. p. 30-49.

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