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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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Por outro lado, essa busca <strong>de</strong> conforto a que se refere o autor não está<br />

<strong>de</strong>slocada dos múltiplos processos contemporâneos <strong>de</strong> mercadorização e<br />

espetacularização <strong>de</strong> memórias do passado que se efetivam sob diferentes<br />

suportes e meios. Mesmo assim, tais processos, que impulsionam eventos<br />

e produtos retrôs, ilustram o frenesi memorialístico atual. Ainda segundo<br />

Huyssen, tudo isso representa “<strong>uma</strong> lenta mas palpável transformação da<br />

temporalida<strong>de</strong> nas nossas vidas” 17 , motivada pelas nossas experiências<br />

num mundo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s novida<strong>de</strong>s, cuja rapi<strong>de</strong>z e intensida<strong>de</strong> nos colocam<br />

continuamente a impressão <strong>de</strong> <strong>de</strong>scompasso com pessoas, informações,<br />

tecnologias, produtos e consumo. E essa nova dimensão temporal ainda<br />

nos faz crer, ilusoriamente, que memórias constituem recursos para<br />

instalar ou reinstalar passados inertes – que po<strong>de</strong>m ser aprisionados e<br />

disponibilizados – no presente a fim <strong>de</strong> dar algum sentido às circunstâncias<br />

por meio das quais enten<strong>de</strong>mos on<strong>de</strong> se está e aon<strong>de</strong> chegar.<br />

Ora, este último aspecto é que, <strong>de</strong> certa maneira, explicita o<br />

trabalho <strong>de</strong> “enquadramento <strong>de</strong> memórias coletivas” 18 que, no âmbito da<br />

Festa das Tradições, subsidiou a seleção e a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> quem e por que<br />

festejar. Segundo a comissão organizadora e os historiadores consultados,<br />

o gauchismo não teria ingresso para a festa pois não tem passado nem<br />

memória enraizada na história da cida<strong>de</strong>.<br />

<strong>Joinville</strong> – como tantas outras cida<strong>de</strong>s contemporâneas – pulsa (n)o<br />

tempo presente, marcado por disjunções, superposições e complexida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> fluxos <strong>de</strong> pessoas, tecnologias, finanças, imagens e informações 19 .<br />

Seus paradoxos – visíveis e invisíveis – igualmente pulsam nos sujeitos<br />

(moradores da cida<strong>de</strong>) que vivenciam e promovem entrecruzamentos,<br />

mediações e hibridismos, <strong>de</strong>senrolando jogos entre semelhanças e<br />

diferenças. A Festa das Tradições seria, então, um entre outros tantos<br />

indícios que subsidiariam a minha problematização sobre a cida<strong>de</strong><br />

contemporânea e as percepções sobre os processos migratórios.<br />

17 HUYSSEN, Andreas. Op. cit. p. 25.<br />

18 Conforme Michael Pollak, memórias coletivas são memórias enquadradas, ou seja, aquelas<br />

que, pelo material fornecido pela história, resultam <strong>de</strong> (re)interpretações e combinações <strong>de</strong><br />

um sem-número <strong>de</strong> referências, tendo como função manter as fronteiras sociais <strong>de</strong> grupos,<br />

associações e nações. É pelo trabalho <strong>de</strong> enquadramento que se po<strong>de</strong> significar o “passado<br />

em função dos combates do presente e do futuro”. Por isso, o autor afirma que o que está<br />

em jogo nesse processo <strong>de</strong> enquadramento é o sentido das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s individuais e coletivas.<br />

POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. estudos Históricos, Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

Cpdoc/FGV, v. 2, n. 3, p. 3-15, 1989.<br />

19 APPADURAI, Arjun. Disjunção e diferença na economia cultural global. In: FEATHERSTONE,<br />

Mike (Org.). Cultura global: nacionalismo, globalização e mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. 3. ed. Petrópolis:<br />

Vozes, 1999. p. 311-328.<br />

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