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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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Pareceram-me intrigantes os motivos que moviam o <strong>de</strong>sejo dos<br />

realizadores do evento em usar e mesmo produzir vários passados étnicos<br />

e, ainda, em constituir bases inovadoras para a história da cida<strong>de</strong> e para as<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s dos seus moradores. Por que a história assumiria tão importante<br />

papel <strong>de</strong> álibi na <strong>de</strong>finição dos rumos e <strong>de</strong> categorias socioculturais para<br />

incluir e excluir participantes do empreendimento festivo?<br />

A isso po<strong>de</strong>ria correspon<strong>de</strong>r a crescente visibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novos<br />

“passados presentes” 13 impelidos por aquilo que o crítico literário Andreas<br />

Huyssen <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> “sedução pela memória” 14 , ou seja, a progressiva<br />

preocupação contemporânea com a preservação, a recuperação e mesmo a<br />

recolocação <strong>de</strong> passados no presente, acompanhadas por <strong>uma</strong> diversificação<br />

dos usos e sentidos da história.<br />

A procura por outras tradições e memórias tem se apresentado<br />

como <strong>uma</strong> obsessão cultural, energizada, ainda segundo Huyssen,<br />

“subliminarmente pelo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> nos ancorar em um mundo caracterizado<br />

por <strong>uma</strong> crescente instabilida<strong>de</strong> do tempo e pelo fraturamento do espaço<br />

vivido” 15 , que vem provocando extrema ansieda<strong>de</strong> nas pessoas perante a<br />

velocida<strong>de</strong> com que se apresentam.<br />

A partir da segunda meta<strong>de</strong> do século XX, a sedução pela memória<br />

que faz privilegiar o passado e que reflete os sobressaltos atuais das<br />

sensibilida<strong>de</strong>s h<strong>uma</strong>nas está entremeada pelo complexo cruzamento <strong>de</strong><br />

mudanças <strong>de</strong> toda or<strong>de</strong>m:<br />

Na medida em que as barreiras espaciais se<br />

enfraquecem e o próprio espaço é globalizado<br />

por um tempo cada vez mais comprimido, um<br />

novo tipo <strong>de</strong> incômodo está se enraizando no<br />

coração das metrópoles. [...] Nosso mal-estar<br />

parece fluir <strong>de</strong> <strong>uma</strong> sobrecarga informacional<br />

e percepcional combinada com <strong>uma</strong> aceleração<br />

cultural, com as quais nem a nossa psique nem os<br />

nossos sentidos estão bem equipados para lidar.<br />

Quanto mais rápidos somos empurrados para<br />

o futuro global que não nos inspira confiança,<br />

mais forte é o nosso <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ir mais <strong>de</strong>vagar e<br />

mais nos voltamos para a memória em busca <strong>de</strong><br />

conforto 16 .<br />

13 Expressão retirada da obra do autor. HUYSSEN, Andreas. seduzidos pela memória:<br />

arquitetura, monumentos, mídia. Tradução <strong>de</strong> Sergio Alci<strong>de</strong>s. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Aeroplano,<br />

2000.<br />

14 Id. Ibid.<br />

15 Id. Ibid. p. 20.<br />

16 Id. Ibid. p. 32.

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