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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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Procurei, então, estabelecer um diálogo teórico-metodológico com<br />

alguns historiadores, jornalistas e jornalistas-historiadores, valendome<br />

inicialmente <strong>de</strong> um itinerário abstraído <strong>de</strong> alg<strong>uma</strong>s reflexões do<br />

campo historiográfico e <strong>de</strong> outros campos que empreen<strong>de</strong>ram estudos<br />

<strong>de</strong> discursos. A seleção <strong>de</strong> obras e escritos obe<strong>de</strong>ceu a critérios que<br />

julguei serem os mais pertinentes em relação à minha investigação,<br />

sob o ponto <strong>de</strong> vista temporal e temático. Na análise, minha atenção<br />

voltou-se para a compreensão do que, como, para quem e com quem<br />

os escritores travaram <strong>de</strong>bate por meio <strong>de</strong> suas obras e, ainda, quais os<br />

seus lugares vislumbrados à medida que eu interpretava a historicida<strong>de</strong><br />

dos escritos.<br />

Deparei com explicações divergentes e convergentes sobre a<br />

questão migratória e o seu papel no passado e no presente <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>.<br />

Grosso modo, nos anos <strong>1980</strong> os <strong>migrante</strong>s foram concebidos como <strong>uma</strong><br />

espécie <strong>de</strong> efeito colateral <strong>de</strong> um quase natural empreen<strong>de</strong>dorismo<br />

herdado dos pioneiros i<strong>migrante</strong>s alemães. No <strong>de</strong>correr dos anos 1990,<br />

por outro lado, passaram a ser vistos como objetos <strong>de</strong> exploração física<br />

e simbólica da cida<strong>de</strong> germânica, sujeitos históricos invisibilizados,<br />

<strong>de</strong>senraizados e produtores <strong>de</strong> microrresistências que acabaram por<br />

<strong>de</strong>sestabilizar o po<strong>de</strong>r normativo e disciplinador das elites.<br />

Ao problematizar reportagens e artigos <strong>de</strong> jornais, busquei<br />

i<strong>de</strong>ntificar as interfaces <strong>de</strong>les com as representações construídas pela<br />

historiografia. Ao contrário <strong>de</strong> um presumido contraste, ou melhor,<br />

distanciamento entre argumentos e significados sobre a migração,<br />

entrevi um movimento dialógico movido por ambivalências, negociações<br />

e contradições que envolveram historiadores, jornalistas e historiadoresjornalistas.<br />

Portanto, a diferença mais <strong>uma</strong> vez pulsou e me ajudou a<br />

compreen<strong>de</strong>r, em primeiro lugar, as interfaces dos discursos – quer<br />

por <strong>de</strong>fesas renovadas em favor da predominância étnica urbana, quer<br />

pela contestação <strong>de</strong>ssa predominância em favor <strong>de</strong> presumidas novas<br />

ou invisíveis personagens históricas – e, em segundo lugar, que as<br />

próprias explicações sobre a migração e os estigmas sobre os <strong>migrante</strong>s<br />

se modificaram mediante as experiências e as relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r na<br />

socieda<strong>de</strong> joinvilense.<br />

Nesse ponto, foi extremamente importante retomar o percurso <strong>de</strong><br />

alg<strong>uma</strong>s teorias da migração verificando como elas foram construídas<br />

num processo <strong>de</strong> diálogo interdisciplinar e, ao mesmo tempo, pelos<br />

e nos atribulados <strong>de</strong>bates políticos acerca do papel e do lugar dos<br />

<strong>migrante</strong>s nas <strong>de</strong>nominadas socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> origem e hospe<strong>de</strong>ira. De

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