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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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que não aquelas localizadas no centro ou mesmo promovidas pelo po<strong>de</strong>r<br />

público e empresarial. Festivida<strong>de</strong>s essas das quais inicialmente tomei<br />

conhecimento apenas pelos jornais <strong>de</strong> bairro.<br />

Desloquei-me a dois bairros que, a partir da década <strong>de</strong> <strong>1980</strong>,<br />

haviam sido expandidos territorialmente e a<strong>de</strong>nsados <strong>de</strong>mograficamente<br />

em função da chegada <strong>de</strong> <strong>migrante</strong>s. Duas festas da polenta e <strong>uma</strong> festa<br />

do arroz tornaram-se, então, objetos <strong>de</strong> investigação. Novos hibridismos<br />

e variações <strong>de</strong> estetização étnica urbana emergiam à medida que eu me<br />

imiscuía em lugares anteriormente concebidos como margens da cida<strong>de</strong>.<br />

Diferenças e semelhanças entre o conjunto das festas analisadas eram<br />

por mim constatadas. Contudo nas festas <strong>de</strong> bairro as novas invenções <strong>de</strong><br />

tradição étnica exprimiam apropriações, maneiras <strong>de</strong> fazer e sentimentos<br />

<strong>de</strong> pertencimentos emergentes das próprias vivências cotidianas dos<br />

moradores. Com isso não quero dizer que a cultura e a tradição não eram<br />

também lá manejadas e expostas como produtos ou compartimentos<br />

dispostos em barraquinhas e vestimentas. Todavia, ao dialogar com<br />

realizadores e participantes e ao analisar escritos, imagens e narrativas,<br />

foi-me possível verificar que tais festas expressavam e eram atravessadas<br />

por disputas, acordos, expectativas e traduções vivenciadas no “pedaço”<br />

e na cida<strong>de</strong>; as festas <strong>de</strong> bairro constituíam pontos específicos <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> lazer, religiosida<strong>de</strong> e trabalho, re<strong>de</strong>s tecidas e movidas pelos próprios<br />

moradores. Não se tratava, pois, <strong>de</strong> esforços concentrados e envidados <strong>de</strong><br />

forma restrita para a fabricação <strong>de</strong> marcadores voltados ao conhecimento<br />

da essência da diversida<strong>de</strong> cultural urbana, mas processos <strong>de</strong> fruição<br />

das diferenças urbanas.<br />

Desse modo, a cida<strong>de</strong> como lugar on<strong>de</strong> a vida acontece emergiu<br />

como espaço <strong>migrante</strong>, cujas conexões se tornaram inteligíveis na<br />

historicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alg<strong>uma</strong>s práticas e representações – especialmente<br />

relacionadas aos lazeres festivos – e nas indagações que buscaram<br />

comparar os sentidos que concorriam para a concepção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

cultural como resultado e com os processos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação fluidos e<br />

correntes <strong>de</strong> que tomava conhecimento.<br />

Tais questões foram por mim reabertas na análise dos textos<br />

historiográficos e da imprensa, os quais foram produzidos a partir<br />

da década <strong>de</strong> <strong>1980</strong>. Era preciso enten<strong>de</strong>r como a questão migratória<br />

tinha sido tratada pelos escritores e, ainda, se nesse trato era possível<br />

avançar na problematização acerca dos sentidos da diferença e da i<strong>de</strong>ia<br />

<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> cultural urbana.

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