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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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arremates<br />

Tão ou mais difícil que iniciar a urdidura é arrematar a intriga.<br />

Olho insistentemente para o tecido. I<strong>de</strong>ntifico alguns fios entre os<br />

inúmeros que amealhei e puxei do balaio. Nos laçados <strong>de</strong> ponto miúdo<br />

tenho dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aceitar que o que me resta é dar acabamento ao<br />

tecido, alinhavando arremates com as pontas que lhe fazem franjas.<br />

Tenho a impressão <strong>de</strong> que agora seria muito apropriado, se houvesse<br />

tempo, corrigir as laçadas malfeitas. Porém tenho <strong>de</strong> dispor a outros<br />

olhos e mãos o que teci.<br />

Ao ter <strong>de</strong> por um ponto final a esta escrita historiográfica, cujo<br />

<strong>de</strong>safio foi edificar alguns sentidos às investigadas <strong>tramas</strong> da e na<br />

cida<strong>de</strong> <strong>migrante</strong>, os constrangimentos que atravessam o meu lugar <strong>de</strong><br />

doutoranda me obrigam a apresentar alg<strong>uma</strong>s conclusões, por mais que<br />

eu <strong>de</strong>seje adiá-las.<br />

A primeira, tão óbvia quanto possível, refere-se à própria<br />

operação historiográfica. No processo, construí e reconstruí problemas<br />

e hipóteses. Da versão primeira do projeto entregue ao orientador quase<br />

tudo foi mudado. Apropriei-me reflexivamente <strong>de</strong> teorias, conceitos e<br />

<strong>de</strong> inúmeras teses e antíteses. Indo à cata <strong>de</strong> fontes, consegui <strong>uma</strong><br />

infinida<strong>de</strong>. Infelizmente alg<strong>uma</strong>s <strong>de</strong>las ainda me aguardam na pasta<br />

“pendências” em cima da mesa. Entretanto as mudanças <strong>de</strong> trajeto<br />

não po<strong>de</strong>m ser atribuídas, stricto sensu, a diálogos epistemológicos.<br />

Penso que tais mudanças dizem respeito à própria maneira do fazer<br />

histórico contemporâneo. Ou seja, se é <strong>de</strong> um lugar que o historiador<br />

<strong>de</strong>lineia seus interesses, escolhe métodos e seleciona documentos,<br />

ao dialogar com outros saberes e <strong>de</strong>parar com o <strong>de</strong>sconhecido ele<br />

vai problematizando o seu próprio lugar no presente. Com isso seus<br />

percursos são transformados e a sua pesquisa se <strong>de</strong>ixa atravessar pelo<br />

seu mundo, cravejado <strong>de</strong> diferenças e diferentes. Ao final, <strong>de</strong>seja dispor<br />

o trabalho não para que os outros tirem <strong>de</strong>le lições <strong>de</strong> história. Ao<br />

contrário, seu <strong>de</strong>sejo é intensificar a incessante problematização do<br />

vivido a partir do passado interpretado. Intenciona, pois, que os fios<br />

utilizados sejam reconhecidos, bem como as operações que compuseram<br />

a trama 1 . Na minha investigação pulsou a diferença e, à medida que a<br />

problematizava, a cida<strong>de</strong> <strong>migrante</strong> ganhava novos contornos.<br />

1 Esclareço ao leitor que tanto a metáfora da trama como a reflexão do fazer historiográfico<br />

foram extraídas <strong>de</strong> Certeau. CERTEAU, Michel <strong>de</strong>. a escrita da história. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<br />

Forense, 1982. p. 23-107.

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