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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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cida<strong>de</strong> também apropriada e <strong>de</strong>sejada a partir do laptop do Sr. Mauro<br />

e dos amores da Sra. Maria Raquel.<br />

Do livro Renovar a teoria crítica e reinventar a emancipação<br />

social, do sociólogo Boaventura <strong>de</strong> Sousa Santos 167 , extraio das <strong>de</strong>nsas<br />

reflexões epistemológicas, teóricas e políticas um sentido e <strong>uma</strong> tentativa<br />

<strong>de</strong> articulação das narrativas <strong>de</strong> memória que se apresentam como <strong>uma</strong><br />

espécie <strong>de</strong> espaço <strong>de</strong> frequentação on<strong>de</strong> diferentes experiências da vida<br />

normativa, <strong>de</strong> práticas e saberes se encontram, conflitam e interagem<br />

e, sobretudo, se dão a conhecer. Das reflexões <strong>de</strong> Santos também<br />

extraio elementos para situar no menor limite possível práticas políticas<br />

e produção <strong>de</strong> saberes voltadas a conectar os sentidos da diferença,<br />

não para aplacá-la, mas para viabilizá-la. Acredito que o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong><br />

estabelecer conexões entre <strong>de</strong>claradas <strong>de</strong>sconexões não é restrito à<br />

inteligibilida<strong>de</strong> da operação historiográfica ou mesmo a políticas<br />

afirmativas, como quer crer o Sr. Silvestre. Vejamos.<br />

Para Santos, é preciso empreen<strong>de</strong>r <strong>uma</strong> crítica à “razão indolente,<br />

preguiçosa, que se consi<strong>de</strong>ra única, exclusiva, e que não se exercita o<br />

suficiente para po<strong>de</strong>r ver a riqueza inesgotável do mundo” 168 . Não se<br />

po<strong>de</strong> mais tomar a parte pelo todo, pois continuaríamos <strong>de</strong>sperdiçando<br />

a riqueza das experiências h<strong>uma</strong>nas, <strong>de</strong>sperdício esse que contrai o<br />

presente e homogeneíza <strong>uma</strong> suposta totalida<strong>de</strong> real. É preciso, segundo<br />

o autor, termos <strong>uma</strong> visão ampla do presente, pois é nele que sempre<br />

vivemos e não no passado ou no futuro, cada vez mais tido como<br />

expansivo e infinito.<br />

Afirmando que não é possível querermos transformar o real sem<br />

buscar compreendê-lo, o autor indica que o caminho seria expandir o<br />

presente para contrair o futuro. Nesse sentido, seria imprescindível na<br />

contemporaneida<strong>de</strong> subverter a produção <strong>de</strong> ausências transformando-as<br />

em objetos presentes, <strong>de</strong> forma a tornar visível aquilo que foi por vezes<br />

e comumente escamoteado. Aprofun<strong>de</strong>mos seu pensamento.<br />

De acordo com Santos, seria preciso exercitar <strong>uma</strong> “sociologia<br />

das ausências” capaz <strong>de</strong>, pela percepção multicultural, <strong>de</strong>sativar: a<br />

“monocultura do saber e do rigor”, que <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ra conhecimentos<br />

avaliados como pouco pertinentes ou pouco rigorosos; a “monocultura<br />

do tempo linear”, cuja i<strong>de</strong>ia imprime à história um sentido e <strong>uma</strong> direção<br />

baseados no “progresso, mo<strong>de</strong>rnização, <strong>de</strong>senvolvimento e, agora,<br />

167 SANTOS, Boaventura <strong>de</strong> Sousa. renovar a teoria crítica e reinventar a emancipação<br />

social. São Paulo: Boitempo, 2007.<br />

168 Id. Ibid. p. 25.

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