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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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encenação do roteiro da diferença, quer sobre a cida<strong>de</strong> que trazia ao<br />

palco, quer sobre os <strong>migrante</strong>s, supostos protagonistas da peça.<br />

O que, afinal <strong>de</strong> contas, representava a peça para o entrevistado?<br />

Quais os sentidos que essa experiência rememorada lhe sugeria? Teria<br />

exprimido artisticamente <strong>de</strong>sejos subjetivos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sforra ou re<strong>de</strong>nção<br />

<strong>migrante</strong>? Opto por citar alguns trechos da transcrição do diálogo final<br />

da entrevista.<br />

SF – Não é <strong>de</strong>sforra nem tributo. Ela é um reconhecimento [...].<br />

Acho que fazer Migrantes para mim foi <strong>uma</strong> forma <strong>de</strong> fazer política<br />

afirmativa. Existem outras histórias na cida<strong>de</strong> que não só a germânica.<br />

[...] Eu sou a favor <strong>de</strong> cotas.<br />

IC – Mas isso não é perigoso? Não é criar <strong>uma</strong> cilada para a<br />

tua crítica?<br />

SF – Quem que falou que o artista tem compromisso o tempo<br />

inteiro com a crítica? Eu era um artista, mais que um historiador, fazia<br />

<strong>uma</strong> obra <strong>de</strong> arte. Não tenho compromisso histórico o tempo todo, eu<br />

não tenho compromisso...<br />

IC – Não, mas não é nem histórico, é político mesmo. [...] Estou<br />

falando <strong>de</strong> reivindicar algo para si <strong>de</strong>sconectando outras coisas...<br />

SF – Não tem como você trabalhar organicamente tudo o tempo<br />

inteiro. Tem horas que você tem que <strong>de</strong>sconectar, reconhecer e conectar<br />

<strong>de</strong> novo. [...] Fazer política também é fazer escolhas... Quando a gente faz<br />

<strong>uma</strong> Semana da Consciência Negra, faz escolhas. Faz alguns recortes.<br />

Não estou negando, mas estou afirmando que. [...] Acho que a história<br />

vai contar, não sou eu que tenho que começar tudo, não tenho essa<br />

direção.<br />

IC – Mas...<br />

SF – Por quê?!<br />

IC – Na história... mas na política da cida<strong>de</strong>...<br />

SF – Eu não tenho essa obrigação. Como gestor<br />

talvez tenha mais. Quando faço política afirmativa<br />

como gestor, acho que tenho mais obrigação em<br />

relação a levar em conta as conexões. Mas mesmo<br />

assim também, acho que... Mas assim, como<br />

artista... Acho que o papel da arte é <strong>de</strong>sconectar<br />

mesmo. Acho que a arte não é o tempo todo<br />

conexão, acho que a arte é tirar o chão, é <strong>de</strong>ixar<br />

vazios, é provocar buracos, vazios. Porque alguém<br />

vai querer emendar isso, alguém vai querer fazer

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