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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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jornalistas que atuavam em <strong>Joinville</strong> era proveniente <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

metrópoles, especialmente do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Por isso os<br />

artistas locais, quando produziam algo, eram submetidos a avaliações<br />

<strong>de</strong>scontextualizadas, fruto <strong>de</strong> comparações incomparáveis, bem<br />

como a percepções um tanto etnocêntricas sobre a arte. Segundo<br />

ele, isso também era comum quando alguns dos paulistas, cariocas<br />

ou mineiros expressavam sua opinião sobre as produções artísticas<br />

<strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>. Com frequência elas eram consi<strong>de</strong>radas provincianas e<br />

<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> questionável.<br />

No seu ponto <strong>de</strong> vista, havia algo que se <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> lado.<br />

Diz que “somos tão cibernéticos e tão televisivos” que esquecemos<br />

que a arte, especialmente o teatro, está se tornando <strong>uma</strong> das raras<br />

oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> as pessoas se encontrarem com pessoas. A<br />

qualida<strong>de</strong> do encontro – e, portanto, da obra – <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ria, em sua<br />

opinião, do quanto oportunizaria ao público se localizar e se perceber<br />

individual e coletivamente nesses fluxos que atravessam seus lugares<br />

na cida<strong>de</strong>.<br />

Afirma que a Dionisos não tinha a pretensão <strong>de</strong> fazer<br />

<strong>de</strong> Migrantes um gran<strong>de</strong> espetáculo, à semelhança <strong>de</strong> um teatro<br />

televisivo. Ainda que a maioria das apresentações tivesse sido feita no<br />

Teatro Juarez Machado e no galpão da Cida<strong>de</strong>la Cultural, explica:<br />

A vocação da peça ainda é apresentar nos galpões<br />

<strong>de</strong> igreja, nas comunida<strong>de</strong>s mesmo, [pois] o<br />

cidadão do bairro que vai ao teatro ainda vai ver<br />

a novela, [...]. Agora, quando a peça está perto da<br />

casa <strong>de</strong>le, lá no bairro <strong>de</strong>le, acho que é mais, tem<br />

mais concretu<strong>de</strong> 165 .<br />

Destaca ainda que a peça po<strong>de</strong>ria ser apresentada n<strong>uma</strong> praça<br />

qualquer do centro da cida<strong>de</strong>, pois tem essa proposta <strong>de</strong> aproximação e,<br />

ao mesmo tempo, incita aqueles que a veem a tomá-la para si, criando<br />

“<strong>uma</strong> outra comunhão no espaço”.<br />

Pela sua narrativa, vislumbrei a atribuição <strong>de</strong> um duplo papel<br />

a Migrantes: a peça oportunizaria aos que equivocadamente são<br />

representados como “os <strong>de</strong> fora” fortalecer seus vínculos <strong>de</strong> pertencimento<br />

à cida<strong>de</strong> e assim se expor à vista dos outros e, além disso, suscitaria<br />

lições i<strong>de</strong>ntitárias aos <strong>migrante</strong>s joinvilenses mais reticentes <strong>de</strong> seus<br />

165 FERREIRA, Silvestre. Op. cit.

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