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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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transformando a peça n<strong>uma</strong> síntese histórica <strong>de</strong> versões, mas ainda<br />

<strong>uma</strong> síntese; amalgamação intencional <strong>de</strong> plurais; representação tão<br />

generalizante quanto a que tentava <strong>de</strong>sacreditar.<br />

É preciso ressaltar que esse <strong>de</strong>bate emergiu à medida que<br />

ambos – entrevistadora e entrevistado – se dispunham a aprofundar os<br />

temas. Enriquecedores <strong>de</strong>svios do roteiro da entrevista abriam novas<br />

frentes, cujos enfrentamentos foram <strong>de</strong>marcando fronteiras entre teatro,<br />

memória e história.<br />

Para contrapor-se à pergunta que sugeria que a peça produzia<br />

<strong>uma</strong> categorização generalizante <strong>de</strong> <strong>migrante</strong>, o Sr. Silvestre disse ter<br />

feito escolhas no próprio processo <strong>de</strong> montagem da obra. A i<strong>de</strong>ia não<br />

era dar visibilida<strong>de</strong> aos <strong>migrante</strong>s com base em suas procedências, como<br />

paranaenses, gaúchos, paulistas ou outros. Escolheu trazer ao palco<br />

memórias <strong>de</strong> um tipo especial <strong>de</strong> <strong>migrante</strong>; se fez <strong>uma</strong> generalização,<br />

ela se <strong>de</strong>u por meio <strong>de</strong> <strong>uma</strong> clivagem que pensa ser fundamental. Optou<br />

por trabalhar com as memórias daqueles que <strong>de</strong>ixaram tudo para trás;<br />

<strong>migrante</strong>s provenientes do interior impelidos a ficar, pois não teriam<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> retorno ou <strong>de</strong> novo <strong>de</strong>slocamento.<br />

Para o Sr. Silvestre, tais <strong>migrante</strong>s são aqueles consi<strong>de</strong>rados pelos<br />

outros como “os <strong>de</strong> fora” e privados da voz e da visibilida<strong>de</strong> histórica.<br />

Por outro lado, são eles que mais facilmente se dispõem a pertencer a<br />

<strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> em relação a <strong>Joinville</strong> e a produzi-la. Acrescenta:<br />

Eu acho que as pessoas que vieram do interior,<br />

às vezes, têm mais facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pertencimento,<br />

porque elas <strong>de</strong>ixaram mesmo as suas coisas, elas<br />

ven<strong>de</strong>ram, elas vieram com tudo. Já os <strong>migrante</strong>s<br />

que vieram da cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s maiores [...],<br />

querem buscar a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>les na cida<strong>de</strong> do outro,<br />

e não vai ter, não vai ter. Isso, eu acho, que a<br />

maior resistência é eu querer me encontrar on<strong>de</strong><br />

eu não, on<strong>de</strong> eu ainda não estou 164 .<br />

A sua escolha, portanto, estabelece <strong>uma</strong> distinção que lhe<br />

permite, em primeiro lugar, criticar como artista a resistência dos<br />

<strong>migrante</strong>s provenientes <strong>de</strong> metrópoles a aceitar a cida<strong>de</strong> como ela é<br />

(e o teatro que nela se faz) e, em segundo lugar, legitimar o projeto<br />

cultural que empreen<strong>de</strong> como agente político. A título <strong>de</strong> exemplo,<br />

lembra que dos anos <strong>1980</strong> até meados dos anos 1990 boa parte dos<br />

164 FERREIRA, Silvestre. Op. cit.

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