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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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333<br />

e as subjetivida<strong>de</strong>s em referências imprescindíveis à compreensão do<br />

“valor das histórias pessoais” no passado e no presente joinvilense.<br />

Afirma o Sr. Silvestre:<br />

Que valor? É assim... O esqueleto é o que mantém<br />

a gente em pé. Os nossos esqueletos são as nossas<br />

memórias. O que nos move são as nossas histórias.<br />

Quem nós somos, <strong>de</strong> como nós viemos, <strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

viemos, para on<strong>de</strong> vamos. As velhas perguntas.<br />

Acho que tem a ver com isso. A migração mexe<br />

muito com isso, aquelas velhas perguntas, para<br />

on<strong>de</strong> queremos ir, para on<strong>de</strong> vamos 163 .<br />

Assim, encenar memórias <strong>migrante</strong>s seria lembrar às pessoas que<br />

todas possuem esqueletos que as sustentam, embora sejam invisíveis<br />

ao olhar superficial. São eles que, ao serem sacudidos, permitiriam<br />

acessar e reconhecer práticas e representações da diferença no contexto<br />

urbano.<br />

Reparar ausências e incluir os excluídos? Ao fazer-lhe essa<br />

pergunta, o entrevistado opera outra sugestiva harmonização entre<br />

história e memória, agora lhe adicionando o termo i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, com a<br />

qual a peça ganharia também pertinência. Diz ele: “A gente se contar,<br />

é <strong>uma</strong> forma <strong>de</strong> estar vivo. Quando eu conto, aqui e agora, eu, <strong>de</strong><br />

alg<strong>uma</strong> maneira, estou”.<br />

Ao fazer uso da memória, Migrantes <strong>de</strong>sempenharia o papel <strong>de</strong><br />

mediação entre os sujeitos e os sentimentos <strong>de</strong> pertencimento em relação<br />

à cida<strong>de</strong>. Pela sua narrativa, penso então que as personagens centrais<br />

não seriam os <strong>migrante</strong>s ou mesmo a cida<strong>de</strong>, mas a própria peça, pois<br />

intencionalmente almejava ser lugar marcado para o encontro entre a<br />

cida<strong>de</strong> e os cidadãos com os seus passados e presentes.<br />

Aludi a esse sutil <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r no momento da entrevista<br />

indagando ao entrevistado se tais intenções não acabavam por<br />

transformar a peça n<strong>uma</strong> espécie <strong>de</strong> vitrine, espetacularizando a cida<strong>de</strong>,<br />

ainda que a cada apresentação tal vitrine fosse estilhaçada. E mais, com<br />

base em sua <strong>de</strong>scrição sobre como procurou criar personagens sínteses<br />

e montar um cenário que me parecia um cartograma convencionado<br />

por objetos que funcionavam como índices fundamentais para o ato <strong>de</strong><br />

lembrar, perguntei-lhe se em vez <strong>de</strong> negar a existência <strong>de</strong> <strong>uma</strong> única<br />

versão possível da história da migração não estaria, contraditoriamente,<br />

163 FERREIRA, Silvestre. Op. cit.

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