08.05.2013 Views

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

332<br />

intelectual, afetivo, moral e político. Por um lado, “são versões que se<br />

sustentam na esfera pública porque parecem respon<strong>de</strong>r plenamente às<br />

perguntas sobre o passado. Garantem um sentido, e por isso po<strong>de</strong>m<br />

oferecer consolo ou sustentar a ação” 161 , e, por outro lado, “respon<strong>de</strong>m<br />

à insegurança perturbadora causada pelo passado na ausência <strong>de</strong> um<br />

princípio explicativo forte e com capacida<strong>de</strong> inclusiva” 162 .<br />

Se as narrativas <strong>de</strong> memória dizem respeito às subjetivida<strong>de</strong>s do<br />

narrador e <strong>de</strong> outros que convoca do presente que narra, a equivalência<br />

entre história e memória pela qual o Sr. Silvestre explica a abordagem<br />

teórica pluralizante dos termos permite, a um só tempo, enten<strong>de</strong>r e situar<br />

o viés que adota para significar suas práticas políticas no presente e suas<br />

práticas artísticas do passado, incluindo a produção <strong>de</strong> Migrantes.<br />

Diz ele que no processo <strong>de</strong> produção da peça foi se vislumbrando<br />

a intenção do grupo, “que acho que também é i<strong>de</strong>ológica, <strong>de</strong> não fazer<br />

i<strong>de</strong>ologia. [...] Não querer contar a verda<strong>de</strong>ira história da cida<strong>de</strong>”. Por<br />

isso, teriam sido necessários cuidados redobrados para “que a i<strong>de</strong>ologia<br />

da vitimização não transformasse o espetáculo n<strong>uma</strong> o<strong>de</strong> à dor do<br />

<strong>migrante</strong>” e não se traduzisse também como contraponto <strong>de</strong> negação à<br />

história i<strong>de</strong>ologicamente vitimizante. Ao sugerir que toda história seria<br />

i<strong>de</strong>ológica, pensa o Sr. Silvestre que é preciso conceber o conhecimento<br />

histórico – mesmo o produzido aca<strong>de</strong>micamente – como aquele que<br />

propõe <strong>uma</strong> verda<strong>de</strong> possível e não intrínseca aos acontecimentos. As<br />

operações do passado, os usos da memória na produção da peça e<br />

o próprio ato <strong>de</strong> rememorar dos sujeitos no contexto do espetáculo<br />

sinalizariam essa epistemologia histórica baseada em plurais.<br />

Por um lado a peça não <strong>de</strong>veria ser confundida, <strong>de</strong> maneira<br />

nenh<strong>uma</strong>, com <strong>uma</strong> homenagem ou um dispositivo <strong>de</strong> enunciação<br />

<strong>de</strong> <strong>uma</strong> outra verda<strong>de</strong> a ser <strong>de</strong>svelada sobre a história da cida<strong>de</strong>. De<br />

outro lado, ao intencionar ser entendida como possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criação<br />

<strong>de</strong> novas versões a serem acrescidas, apreciadas ou não, aceitas pela<br />

aca<strong>de</strong>mia ou não, o Sr. Silvestre promove, penso eu, <strong>uma</strong> espécie<br />

<strong>de</strong> equivalência harmonizadora da relação entre história e memória<br />

em função das necessida<strong>de</strong>s dos sujeitos no presente urbano e as<br />

possibilida<strong>de</strong>s para que tal harmonização seja apropriada socialmente<br />

por meio dos fazeres teatrais.<br />

A sua narrativa também explicita o princípio teórico que<br />

fundamentou os objetivos da Dionisos para transformar as memórias<br />

161 SARLO, Beatriz. Op. cit. p. 14.<br />

162 Id. Ibid. p. 15.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!