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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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É preciso digressionar sobre o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> reparação i<strong>de</strong>ntitária<br />

que penso permear marcantemente a narrativa do entrevistado. Nesse<br />

<strong>de</strong>sejo ainda estão em jogo suas percepções sobre o que é história<br />

e memória, a relação <strong>de</strong>sses termos em sua prática artístico-teatral e<br />

ainda como distingue os <strong>migrante</strong>s joinvilenses em seus processos <strong>de</strong><br />

apropriação da cida<strong>de</strong>.<br />

Esclareço que tais questões são discutidas, a partir daqui, com<br />

foco nas representações e nos sentidos da peça Migrantes construídos<br />

no próprio ato narrativo do Sr. Silvestre. A peça, portanto, não mais será<br />

abordada como um documento exterior e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da entrevista,<br />

mas como <strong>uma</strong> das experiências narradas pelo Sr. Silvestre Ferreira.<br />

Ele lembra que quando estreou Migrantes teve <strong>de</strong> lidar com<br />

críticas locais que consi<strong>de</strong>raram um tanto ficcional sua abordagem<br />

teatralizada diante da verda<strong>de</strong> dos fatos históricos. Os críticos falavam<br />

que “essa não é bem a verda<strong>de</strong>ira história, porque a história dos<br />

<strong>migrante</strong>s é <strong>uma</strong> história <strong>de</strong> exploração do trabalho, não sei o quê, e a<br />

peça não trata muito <strong>de</strong>ssas coisas, o cara que foi explorado no trabalho,<br />

o patrão perverso e... eu não fui por esse viés”.<br />

Explicita sua direção viesada ressaltando que não há <strong>uma</strong><br />

verda<strong>de</strong>ira história, mas versões sobre o passado, ou seja, versões<br />

históricas. Desse princípio teórico diz que o grupo buscou recolher<br />

histórias produzidas pelo trabalho <strong>de</strong> memória.<br />

As razões que possibilitam a equivalência estabelecida pelo<br />

entrevistado entre história e memória po<strong>de</strong>m ser analisadas levando<br />

em conta as pon<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> Beatriz Sarlo sobre o relacionamento<br />

conflituoso que, na contemporaneida<strong>de</strong>, as pessoas mantêm com o<br />

passado. Constata a autora que, nas últimas décadas do século XX, os<br />

sujeitos, antes concebidos como reflexos <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminismos, ressurgem<br />

como protagonistas que reclamam direitos, incluindo os relativos às<br />

lembranças. Nesse contexto, <strong>de</strong>nominado “guinada subjetiva”, a história<br />

que nem sempre acreditou na memória passa a ser por ela instada.<br />

Isso porque a memória tem <strong>de</strong>sconfiado mais intensamente <strong>de</strong> toda a<br />

reconstituição que não a coloque no centro.<br />

Nessa configuração se situaria a investida da “história acadêmica”<br />

para respon<strong>de</strong>r aos novos <strong>de</strong>safios teórico-metodológicos, bem como<br />

a abertura <strong>de</strong> um mercado simbólico para outras modalida<strong>de</strong>s não<br />

acadêmicas operarem o passado. Explica Sarlo que o sucesso <strong>de</strong>ssas<br />

novas modalida<strong>de</strong>s, especialmente as que se valem <strong>de</strong> recursos<br />

testemunhais, se dá em função <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s presentes <strong>de</strong> caráter

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