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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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Hoje eu olho para trás e vejo que o que me<br />

moveu foi o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> eu me sentir em casa.<br />

Porque a partir <strong>de</strong> Migrantes eu mobilizei muita<br />

coisa na minha vida. Eu não fiz a peça para ser<br />

<strong>uma</strong> terapia, não tem nada da minha história<br />

ali, pessoal, mas naturalmente acho, agora, que<br />

moveu muita coisa minha 159 .<br />

Subjetivamente aproxima e distancia sua própria trajetória <strong>migrante</strong><br />

da peça. Tal ambivalência emerge entre o vai e vem da rememoração sobre<br />

sua infância e juventu<strong>de</strong>, sua <strong>de</strong>serção do seminário, os estranhamentos<br />

urbanos <strong>de</strong>sdobrados dos primeiros tempos e os seus enfrentamentos<br />

pessoais, familiares e sociais para se tornar artista. Contudo a<br />

ambivalência salientemente se instala quando tenta compreen<strong>de</strong>r do seu<br />

lugar no presente os sentidos e objetivos da peça como lugar praticado<br />

no passado que lhe propiciou não apenas estar no lugar on<strong>de</strong> está, mas<br />

legitimamente habilitá-lo.<br />

Ocorre que, em 2009, o Sr. Silvestre assumiu a presidência da Fundação<br />

Cultural <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>. Desvencilhou-se da Dionisos. Ao reinterpretar no<br />

momento da entrevista o que a produção <strong>de</strong> 2007 significou em sua vida,<br />

afirmou: “Agora falando como gestor [público], acho que fazer Migrantes<br />

para mim foi <strong>uma</strong> forma <strong>de</strong> fazer política afirmativa”. Assim, para ele, a<br />

peça se assemelha e se articula às diretrizes da política cultural para a qual<br />

ele respon<strong>de</strong>. Migrantes figuraria como <strong>uma</strong> empreitada anterior mas muito<br />

próxima às iniciativas recentes, nomeadamente a Semana da Diversida<strong>de</strong> e<br />

a Semana da Consciência Negra 160 , cujos fins são: “dar voz para a voz que<br />

não tem voz; dar visibilida<strong>de</strong> para grupos que não têm”.<br />

159 FERREIRA, Silvestre. Op. cit.<br />

160 A Semana da Consciência Negra foi realizada entre os dias 20 e 29 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2009<br />

e teve como temática geradora: “Direito à diferença, igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> direitos”. Entre diversas<br />

ativida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>stacaram-se a realização <strong>de</strong> palestras, mesas-redondas, cursos <strong>de</strong> formação<br />

continuada para professores do ensino básico, exposições temáticas e a colocação <strong>de</strong> <strong>uma</strong><br />

placa no Cemitério do I<strong>migrante</strong> “com os nomes dos 14 afro-brasileiros (escravos e libertos)<br />

sepultados no local entre 1862 e 1870”. Tomando o “relato <strong>de</strong> pesquisadores da Fundação<br />

Cultural <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>” como marcador da escravidão e da presença escrava na história <strong>de</strong><br />

<strong>Joinville</strong>, a colocação da placa foi significada como <strong>uma</strong> ação <strong>de</strong> governo voltada à promoção<br />

da igualda<strong>de</strong> racial na cida<strong>de</strong>. De acordo com o blog do evento, a colocação da placa po<strong>de</strong><br />

ser consi<strong>de</strong>rada “para muitos um ato simples, <strong>de</strong> caráter simbólico, mas para o nosso governo<br />

<strong>uma</strong> ação <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> relevância, <strong>uma</strong> <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> que a temática da igualda<strong>de</strong> racial está<br />

sendo tratada <strong>de</strong> <strong>uma</strong> outra forma em <strong>Joinville</strong>”. A NOSSA consciência, por Carlito Merss.<br />

<strong>Joinville</strong>, 1.º <strong>de</strong>z. 2009. Disponível em: . Acesso em:<br />

4 abr. <strong>2010</strong>.

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