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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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moradores em atores ou amantes <strong>de</strong>ssa arte, atuava em associações <strong>de</strong><br />

bairro, comunida<strong>de</strong>s paroquiais, escolas e movimentos sociais; <strong>uma</strong> arte<br />

engajada disposta a sensibilizar e politizar.<br />

Expressa em sua narrativa que suas intensas ativida<strong>de</strong>s políticoartísticas<br />

foram inspiradas n<strong>uma</strong> especial amiza<strong>de</strong> que fez, logo que<br />

chegou à cida<strong>de</strong>, com um padre da paróquia do bairro on<strong>de</strong> morava,<br />

padre Fausto. Relata o que teria aprendido com ele:<br />

Lá no Comasa 157 , 80%, 90% das pessoas eram <strong>de</strong><br />

fora. E ele já tinha <strong>uma</strong> preocupação. Acho que eu<br />

peguei muito <strong>de</strong>le isso. Ele tinha <strong>uma</strong> preocupação<br />

<strong>de</strong> fazer as pessoas se sentirem em casa, das<br />

pessoas se apropriarem da cida<strong>de</strong>, porque ele<br />

achava que as pessoas, ele tinha <strong>uma</strong> visão <strong>de</strong><br />

esquerda, não se sentiam aceitas, incluídas. Muita<br />

dor <strong>de</strong> sauda<strong>de</strong>. Ele dizia que muita gente ia para<br />

a igreja porque ali elas se sentiam irmanadas 158 .<br />

No próprio ato narrativo, o entrevistado inusitadamente associa<br />

as suas experiências <strong>de</strong> <strong>migrante</strong> aos sentidos da peça. As inúmeras<br />

razões pelas quais se <strong>de</strong>u a migração confluíram, segundo pensa, ao<br />

comum sentimento <strong>de</strong> não sentir-se em casa, justamente pelo fato <strong>de</strong> os<br />

<strong>migrante</strong>s precisarem lidar intensamente com o <strong>de</strong>sconforto da diferença<br />

– diferença essa quer emergente da autopercepção <strong>de</strong> estranhos nascidos<br />

pela migração, quer pela situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconforto diante <strong>de</strong> outros tantos<br />

estranhos instados a fazer do estranhamento o meio <strong>de</strong> constituição <strong>de</strong><br />

territórios urbanos mais familiares.<br />

Teria aprendido com o padre Fausto que era possível não pela<br />

igreja, mas pelo teatro, promover <strong>uma</strong> espécie <strong>de</strong> terapia coletiva para<br />

curar ou aliviar feridas subjetivas ocasionadas pela migração? Ou<br />

teria aprendido que pelo teatro seria possível promover <strong>uma</strong> política<br />

afirmativa <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s na cida<strong>de</strong> dos <strong>migrante</strong>s? Vejamos como ele<br />

respon<strong>de</strong> às duas perguntas:<br />

157 Bairro pertencente a Zona Norte/Nor<strong>de</strong>ste <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>. Conta com <strong>uma</strong> população estimada<br />

<strong>de</strong> 21.000 habitantes. Há aproximadamente vinte anos atrás, a localida<strong>de</strong> era “um conjunto<br />

habitacional, <strong>de</strong>ntro do bairro Boa Vista” e ficou “conhecida popularmente por Comasa Boa<br />

Vista. Nesta época, a região era menos urbanizada, existindo, porém, energia elétrica e água<br />

encanada. Palco <strong>de</strong> muitas enchentes, com ruas não calçadas, a região foi sofrendo melhorias<br />

aos poucos, com os moradores, por iniciativa própria, abrindo ruas e reivindicando a tubulação<br />

e calçamento das mesmas”. PREFEITURA MUNICIPAL DE JOINVILLE. Op. cit. p. 31.<br />

158 FERREIRA, Silvestre. Op. cit.

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