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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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Para a crítica Cidinha Milan 155 , Migrantes também se assemelha<br />

à experiência <strong>de</strong> revolver um “baú <strong>de</strong> relíquias”. Todavia não se trata <strong>de</strong><br />

um drama, mas <strong>de</strong> um “teatro-documentário”, pois a cada apresentação<br />

a peça produzia um novo documentário sobre a migração, impulsionado<br />

pela integração palco, público e memórias.<br />

As opiniões dos dois críticos, a leitura do roteiro e a apresentação<br />

a que assisti abriram um leque <strong>de</strong> questões para a realização da entrevista<br />

com o Sr. Silvestre. A princípio, a peça me parecia projetar as suas<br />

próprias memórias <strong>de</strong> <strong>migrante</strong> e sugeria um intencional <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong><br />

recompor a história da migração <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>. Vejamos como minhas<br />

suspeitas suscitaram reflexões e discussões, travadas no próprio campo<br />

da entrevista, sobre as diferenças, o <strong>de</strong>senvolvimento dos laços <strong>de</strong><br />

pertencimento urbano e os usos políticos da memória para a teatralização<br />

da cida<strong>de</strong> contemporânea.<br />

O Sr. Silvestre 156 chegou a <strong>Joinville</strong> em <strong>1980</strong>, mas não migrou<br />

<strong>de</strong> Apiúna. Ocorre que aos 14 anos entrou para o seminário da cida<strong>de</strong><br />

natal e ao término do ensino fundamental foi transferido para outro<br />

seminário, em Ponta Grossa (PR). Dois anos <strong>de</strong>pois, em férias, resolveu<br />

visitar um irmão que já havia tempos tinha se estabelecido em <strong>Joinville</strong>.<br />

No retorno, as memórias das férias intensificaram os secretos conflitos<br />

que conspiravam contra o futuro que a Igreja lhe traçava. Cada vez<br />

mais, migrar tornou-se a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar os <strong>de</strong>sejos profanos<br />

que dolorosamente latejavam sua pre<strong>de</strong>stinação. Desertou.<br />

Ao chegar a <strong>Joinville</strong>, procurou a escola mais próxima da casa do<br />

seu irmão a fim <strong>de</strong> conseguir <strong>uma</strong> vaga para concluir o ensino médio.<br />

A diretora negou-lhe a matrícula, mas o contratou como professor. A<br />

partir daí, <strong>de</strong>senvolver ativida<strong>de</strong>s teatrais com seus alunos não apenas<br />

lhe proporcionou ampliar rapidamente o número <strong>de</strong> escolas e <strong>de</strong> cargahorária<br />

lecionada, mas também as suas re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong>. Envolviase<br />

em tudo o que aparecia. Não havia finais <strong>de</strong> semana. Deslocavase<br />

<strong>de</strong> um bairro para outro fazendo teatro. Procurando transformar<br />

155 Maria Aparecida Milan “é <strong>uma</strong> atriz brasileira que atua no teatro, no cinema e na TV”.<br />

Entre seus principais trabalhos, <strong>de</strong>stacam-se: as telenovelas Malhação alhação (2006), Tieta (1989),<br />

Carmem (1987), Corpo a corpo (1984), Coração alado (<strong>1980</strong>), Malu mulher (1979), Pecado<br />

capital (1975) e Gabriela (1975); os seriados Sandy & Junior (1999), Direito <strong>de</strong> vencer (1997),<br />

Sem lenço, sem documento (1977); as minisséries Você <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> (1992 e 1996), As noivas <strong>de</strong><br />

Copacabana (1992) e Champagne (1983); no cinema os filmes O rei da vela (1983), O<br />

casamento (1976) e Assuntina das Amérikas (1976); no teatro, entre outras, atuou nas peças<br />

Ópera do malandro (1978), As três irmãs (1972) e Aurora da minha vida (1982). Disponível<br />

em: . Acesso em: 4 abr. <strong>2010</strong>.<br />

156 O Sr. Silvestre tem 47 anos. É separado e tem um filho, Vinicius José Puhl Ferreira.

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