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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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provocados por enchentes, empobrecimento ou falta <strong>de</strong> trabalho. Porém<br />

tal característica não torna a peça <strong>uma</strong> tragédia que almeja suscitar no<br />

público sentimentos <strong>de</strong> pieda<strong>de</strong> distante. O roteiro explora a simplicida<strong>de</strong> do<br />

cotidiano vivenciado na cida<strong>de</strong>. Fala <strong>de</strong> romances, <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> vizinhança,<br />

<strong>de</strong> estranhamentos e <strong>de</strong> hibridismos culturais. Tempos e espaços cruzados<br />

aludindo à migração e também às sociabilida<strong>de</strong>s urbanas.<br />

No palco, a composição das personagens é feita não apenas pelos<br />

atores, mas também com recursos tecnológicos que misturam imagens,<br />

sons e iluminação. Não há personagens ou <strong>uma</strong> trama central, mas histórias<br />

fragmentadas que me parecem procurar imprimir importância equitativa a<br />

todas as personagens em suas <strong>tramas</strong>.<br />

O texto da peça foi recentemente publicado 150 . Nele não há indicação<br />

<strong>de</strong> um autor. Por isso, na entrevista que realizei com o Sr. Silvestre<br />

Ferreira 151 , indaguei-o sobre essa ausência, e ele <strong>de</strong>screveu como se <strong>de</strong>u<br />

a montagem.<br />

O Sr. Silvestre formou-se em História, porém pouco a exerceu, a<br />

não ser para tomá-la como coadjuvante <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s teatrais. A peça<br />

Migrantes foi <strong>uma</strong> <strong>de</strong>ssas ocasiões. Com apoio do Laboratório <strong>de</strong> História<br />

Oral da Univille, coor<strong>de</strong>nado pela historiadora Raquel S. Thiago, envolveu<br />

o grupo em discussões sobre memória e narrativa. Não tinha intenção<br />

<strong>de</strong> produzir fontes, mas percorrer trajetos pelos mais variados bairros<br />

<strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>, com o objetivo <strong>de</strong> ouvir e conhecer histórias individuais e<br />

familiares. Foi o que fez. João, Neusa, Valdinei, Osvaldina, Tonho, Ivo<br />

e Lídia são espécies <strong>de</strong> personagens sínteses, composições resultantes <strong>de</strong><br />

escutas, análises, interpretações, laboratórios performáticos que culminaram<br />

num roteiro escrito coletivamente pelo grupo. Em lugar <strong>de</strong> um pequeno<br />

resumo do roteiro, <strong>de</strong>screvo o que observei quando assisti à peça.<br />

Havia música ao fundo e um jogo <strong>de</strong> luzes sobre a entrada dos artistas<br />

no palco. Os atores entraram com objetos e se movimentaram para arr<strong>uma</strong>r<br />

o cenário. No burburinho <strong>de</strong> falas incompreensíveis, os atores foram se<br />

dirigindo ao centro do tablado, olharam juntos para trás e começaram a<br />

sair <strong>de</strong> cena em tempos diferentes.<br />

Ditos com sotaques começaram a recontar um passado presente<br />

bastante familiar à plateia. As cenas iniciais eram <strong>de</strong> <strong>de</strong>spedidas e <strong>de</strong><br />

chegadas. Ainda que não fossem representadas linearmente em tom<br />

150 DIONISOS TEATRO. da cena ao texto: Babaiaga, Entar<strong>de</strong>cer e Migrantes, dramaturgia<br />

da Dionisos Teatro. <strong>Joinville</strong>: Editora Univille, 2008.<br />

151 FERREIRA, Silvestre. Depoimento. entrevista concedida a ilanil Coelho. <strong>Joinville</strong>, 24<br />

fev. <strong>2010</strong>.

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