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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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A atual política <strong>de</strong> memória, assim, <strong>de</strong>veria ser problematizada<br />

em novos termos. Conforme as palavras <strong>de</strong> Huyssen,<br />

se o sentido <strong>de</strong> tempo vivido está sendo<br />

renegociado nas nossas culturas <strong>de</strong> memória<br />

contemporâneas, não <strong>de</strong>vemos esquecer <strong>de</strong> que<br />

o tempo não é apenas o passado, sua preservação<br />

e transmissão. Se nós estamos, <strong>de</strong> fato, sofrendo<br />

<strong>de</strong> um excesso <strong>de</strong> memória, <strong>de</strong>vemos fazer um<br />

esforço para distinguir os passados usáveis dos<br />

passados dispensáveis. [...] Aí então, talvez, seja<br />

hora <strong>de</strong> lembrar o futuro, em vez <strong>de</strong> apenas nos<br />

preocuparmos com o futuro da memória 145 .<br />

Ao interpretar a narrativa do Sr. Charles, foi-me possível<br />

problematizar e interpretar a minha própria passagem pela Comissão<br />

Municipal do Patrimônio Histórico. Foi-me também possível tornar<br />

minimamente inteligíveis os embates culturais que estão e estiveram<br />

em jogo quando a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong> foi, por alg<strong>uma</strong>s horas<br />

n<strong>uma</strong> recente passeata, percebida como algo fora do lugar, como<br />

circunstância “nada a ver” com a i<strong>de</strong>ia corrente <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> cultural<br />

urbana, na qual se articulam os sentidos da Estação da Memória, do<br />

Festival <strong>de</strong> Dança, da Festa das Tradições e tantos outros fragmentos<br />

<strong>de</strong> práticas e representações <strong>de</strong> e sobre <strong>Joinville</strong>.<br />

Nos julgamentos dos internautas e na narrativa do Sr. Charles há<br />

bem mais do que <strong>de</strong>sentendimentos sobre o que é cultura, memória e<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Trata-se <strong>de</strong> como, a partir <strong>de</strong> diferentes lugares, intenções,<br />

momentos e apropriações, se po<strong>de</strong> ter <strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ia da configuração e<br />

refiguração do cultural nos tempos e espaços contemporâneos da<br />

cida<strong>de</strong>.<br />

Se as diferenças (e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s) vividas no urbano conflitam<br />

e acordam com a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> cultural, cabe perguntar quais<br />

cida<strong>de</strong>s se po<strong>de</strong>m vislumbrar pelas narrativas <strong>de</strong> memória e em<br />

que medida políticas e ações governamentais são possíveis levando<br />

em conta não as verda<strong>de</strong>s que procuram enunciar, mas o processo/<br />

configuração que permitiu a essas verda<strong>de</strong>s serem negadas e/ou<br />

afirmadas. Mais <strong>uma</strong> vez, coloca-se o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r as<br />

diferenças pelas <strong>tramas</strong> da cida<strong>de</strong> <strong>migrante</strong>, <strong>Joinville</strong>.<br />

145 HUYSSEN, Andreas. Op. cit.

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