08.05.2013 Views

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

322<br />

culturais e políticas das socieda<strong>de</strong>s oci<strong>de</strong>ntais. Segundo o autor, é necessário<br />

que se discuta o que há <strong>de</strong> específico na organização da memória e da<br />

temporalida<strong>de</strong> em relação ao modo como ela foi experimentada nas épocas<br />

passadas. Diante <strong>de</strong> memórias cada vez mais fragmentadas, produzidas<br />

por diferentes grupos sociais, o problema consistiria em saber se é possível<br />

conformá-las consensualmente n<strong>uma</strong> memória coletiva e, se não, como<br />

po<strong>de</strong>ria ser concebida <strong>uma</strong> memória coletiva carregada por discordâncias<br />

sociais e culturais. Adverte Huyssen que,<br />

se reconhecemos a distância constitutiva entre a<br />

realida<strong>de</strong> e a sua representação em linguagem ou<br />

imagem, <strong>de</strong>vemos, em princípio, estar abertos para<br />

muitas possibilida<strong>de</strong>s diferentes <strong>de</strong> representação do<br />

real e <strong>de</strong> suas memórias. Isto não quer dizer que vale<br />

tudo. A qualida<strong>de</strong> permanece como <strong>uma</strong> questão a<br />

ser <strong>de</strong>cidida caso a caso. Mas a distância semiótica<br />

[relação entre significante e significado] não po<strong>de</strong> ser<br />

encurtada por <strong>uma</strong> única representação correta 143 .<br />

Se Huyssen está certo, conceber a Estação da Memória como<br />

um espaço <strong>de</strong> memória significante que permite a todos os joinvilenses<br />

se i<strong>de</strong>ntificar na cida<strong>de</strong> é imaginar utopicamente que é possível puxar<br />

diferentes fios do passado tecendo-os como pano/signo (significado e<br />

matéria significante) a ser utilizado da mesma forma e para um mesmo<br />

fim indumentário, voltado a reparar a mesma nu<strong>de</strong>z dos visitantes.<br />

Por outro lado, a própria Estação da Memória manifesta <strong>uma</strong> nova<br />

experiência <strong>de</strong> temporalida<strong>de</strong> da cida<strong>de</strong> contemporânea, ou seja, nela<br />

se encontram imbricadas novas percepções e sensibilida<strong>de</strong>s provocadas<br />

pelo complexo cruzamento dos fluxos globais.<br />

Segundo Huyssen, no mundo on<strong>de</strong> tudo o que é novida<strong>de</strong> parece<br />

já estar fadado à efemerida<strong>de</strong> e à obsolescência, o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> memória<br />

e <strong>de</strong> lugares <strong>de</strong> memória po<strong>de</strong> ser entendido como <strong>uma</strong> tentativa <strong>de</strong><br />

compensação capaz <strong>de</strong> proporcionar estabilida<strong>de</strong>s variadas. Problematizar<br />

as políticas <strong>de</strong> memória significa consi<strong>de</strong>rar que a memória não é <strong>uma</strong><br />

promessa para os sujeitos. Ao contrário, são os sujeitos que a vivem<br />

e a ativam. Nesse sentido, também a “memória pública está sujeita a<br />

mudanças – políticas, geracionais e individuais –, ela não po<strong>de</strong> ser<br />

armazenada para sempre, nem protegida em monumentos” 144 .<br />

143 HUYSSEN, Andreas. Op. cit. p. 22.<br />

144 Id. Ibid. p. 36-37.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!