08.05.2013 Views

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

321<br />

Creio que, em termos <strong>de</strong> pertencimentos subjetivos, a Semana da<br />

Diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>, ao dissociar <strong>de</strong> maneira furtiva e instantânea a<br />

i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> do que se pensa comumente como cultura, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

e memória coletiva, contribuiu para que os próprios joinvilenses, em sua<br />

cotidianida<strong>de</strong>, se <strong>de</strong>frontassem intensa e radicalmente com a diferença<br />

sob aspectos e pontos <strong>de</strong> vista variados. Ou seja, o crescimento da<br />

cida<strong>de</strong>, sob impulso dos fluxos contemporâneos, incluindo o migratório,<br />

pô<strong>de</strong> ser problematizado e vivenciado em outros termos culturais que<br />

não os indiciados pelos lugares <strong>de</strong> memória.<br />

Por outro lado, as subjetivida<strong>de</strong>s em jogo produziram lances<br />

adversos do ansiado <strong>de</strong>stino das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s e das memórias urbanas<br />

e, nisso, novas <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s e discriminações foram operadas e<br />

emergiram das afirmações dos eus outros perante os outros eus. Suscitei<br />

tal questão ao entrevistado. O Sr. Charles respon<strong>de</strong>u-me:<br />

Isso é um gran<strong>de</strong> perigo, sem dúvida nenh<strong>uma</strong>, a<br />

parada <strong>de</strong> São Paulo é questionada hoje porque se<br />

tornou <strong>uma</strong> gran<strong>de</strong> festa comercial, não é?! Acaba<br />

gerando <strong>uma</strong> expectativa principalmente por parte<br />

do governo, no efeito que ela po<strong>de</strong> dar à economia<br />

e não necessariamente do questionamento da<br />

socieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> rever valores. Então houve um<br />

cuidado, por parte da Fundação Cultural, para<br />

que até mesmo a Parada, que não foi custeada<br />

pelo po<strong>de</strong>r público, discutisse esses tipos <strong>de</strong><br />

relações e não caísse justamente para esse tipo<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>squalificação do outro, mas acaba-se... como<br />

é um embate... corre-se sempre o risco 142 .<br />

A interpretação histórica, a meu ver, possibilita explicitar o risco<br />

que se corre não apenas nos movimentos que reivindicam direitos à<br />

orientação sexual, mas também naqueles que reivindicam direitos <strong>de</strong><br />

memória e <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, inspirados na salvaguarda e preservação do<br />

que se julga fadado ao perecimento. As complexida<strong>de</strong>s das vivências<br />

da diferença nos empurram à reflexão sobre o emaranhado no qual ela<br />

se estabelece e é reconhecida.<br />

No Capítulo I já me referi à discussão <strong>de</strong> Huyssen sobre<br />

o que consi<strong>de</strong>ra um dos fenômenos culturais mais espantosos na<br />

contemporaneida<strong>de</strong>: a centralida<strong>de</strong> da memória nas preocupações<br />

142 NARLOCH, Charles. Op. cit.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!