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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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De <strong>Joinville</strong>, a família tinha notícias sobre a efervescência <strong>de</strong><br />

movimentos culturais. A <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> migrar para essa cida<strong>de</strong> resolveria<br />

parcialmente seus problemas, pois conquistaria <strong>uma</strong> invisibilida<strong>de</strong><br />

libertadora para o seu veio artístico.<br />

Nos primeiros tempos, auxiliou o pai num novo negócio, um<br />

antiquário. Segundo sua opinião, o joinvilense “tinha outra visão<br />

a respeito da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter ativida<strong>de</strong>s culturais, artísticas, a<br />

valorização da história e tal...”. Por isso, não causavam estranhamento<br />

ou preconceito as suas ativida<strong>de</strong>s e seu interesse pela arte. Por outro lado,<br />

para pôr a termo, <strong>de</strong>finitivamente, os seus conflitos, <strong>de</strong>cidiu alistar-se<br />

no Exército. Por excesso <strong>de</strong> contingente, não foi aceito. Procurou outra<br />

instituição que na época lhe parecia similar: o Colégio Agrícola <strong>de</strong><br />

Araquari, mantido pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina.<br />

Nessa passagem, narrou suas experiências, exprimindo que se<br />

tratava <strong>de</strong> provar aos seus outros que, carregando <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si, po<strong>de</strong>ria<br />

dar vazão às suas sensibilida<strong>de</strong>s estéticas não por falta <strong>de</strong> máscaras<br />

sexualistas, mas simplesmente como diferença a ser engolida por sua<br />

garganta e por aquelas que lhe con<strong>de</strong>navam socialmente.<br />

Arte, agronomia e sexualida<strong>de</strong> foram incógnitas <strong>de</strong> <strong>uma</strong> equação<br />

por ele disposta carregada por enfrentamentos políticos, culturais e,<br />

especialmente, pessoais. O Sr. Charles lembra que no Colégio Agrícola<br />

se tornou <strong>uma</strong> li<strong>de</strong>rança. N<strong>uma</strong> greve <strong>de</strong> fome que envolveu 125 alunos<br />

dos 140 matriculados, lutou contra <strong>de</strong>svios <strong>de</strong> verba, <strong>de</strong>smandos e<br />

autoritarismos. O movimento ganhou projeção em todo o estado <strong>de</strong><br />

Santa Catarina e contou com o apoio do Centro <strong>de</strong> Defesa dos Direitos<br />

H<strong>uma</strong>nos e com políticos do PMDB e do PT. Conta ele: “No final <strong>de</strong><br />

muita confusão acabamos então conseguindo o afastamento <strong>de</strong>sses dois<br />

professores [diretor e orientador do internato], que muito curiosamente,<br />

também naquela época, fundaram o PFL na região”.<br />

Após ter concluído o curso, acabou trabalhando para um<br />

gran<strong>de</strong> proprietário <strong>de</strong> terras <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong> que, num dado momento,<br />

lhe pediu para que fosse junto com um engenheiro agrônomo, ambos<br />

portando “um 38”, para <strong>uma</strong> área <strong>de</strong> mangue e ali <strong>de</strong>sempenhasse um<br />

trabalho especial. No local, “peões” já estariam contratados para, com<br />

motosserras, limparem a área que se <strong>de</strong>stinaria, provavelmente, a um<br />

novo loteamento imobiliário. Foi <strong>de</strong>mitido após <strong>uma</strong> recusa consi<strong>de</strong>rada<br />

pelo interlocutor como impertinente.<br />

Decidiu abraçar <strong>de</strong> vez a arte como ofício e linguagem para a<br />

sua crítica. Entretanto ganhou <strong>de</strong> presente <strong>de</strong> aniversário do engenheiro

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