08.05.2013 Views

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

313<br />

ao comentar <strong>uma</strong> reportagem, explicitaram suas opiniões sobre a<br />

incongruência entre diversida<strong>de</strong> cultural e diversida<strong>de</strong> sexualista.<br />

Um anônimo diz: “Acho que diversida<strong>de</strong> cultural em si é legal<br />

para a cida<strong>de</strong>, porém o que a parada gay tem <strong>de</strong> cultura a oferecer para<br />

nós? Não concordo com o <strong>de</strong>sfile” 130 . Marlene respon<strong>de</strong> ao incauto<br />

anônimo, salientando que o evento trará ganhos para a cida<strong>de</strong>: “Turismo,<br />

vendas no comércio. Na atual crise, alguém ainda se preocupa com<br />

preconceito? É como Festival <strong>de</strong> Dança... traz gente <strong>de</strong> fora para a nossa<br />

cida<strong>de</strong>” 131 . Finalmente, Rubens Rafael adverte a ambos lembrando que<br />

“os gays estão entre nós. Isso mesmo: até em nossa cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong><br />

eles existem e estão como você colaborando para que esta cida<strong>de</strong> não<br />

cresça só em número <strong>de</strong> habitantes” 132 .<br />

Tão inusitadas e quão <strong>de</strong>nsas, a mim pareceram, as posições<br />

dos internautas. O primeiro exprime percepções que compartilham e<br />

aprovam a representação <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> por meio da diversida<strong>de</strong> cultural,<br />

a qual se tornou, subjetivamente, recurso referencial para a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> seus habitantes. A segunda <strong>de</strong>svela a visão pragmática que coloca<br />

acima <strong>de</strong> tudo os interesses <strong>de</strong> mercantilização da diversida<strong>de</strong> cultural,<br />

con<strong>de</strong>nando preconceitos pouco lucrativos, cujas manifestações<br />

comprometeriam os negócios urbanos. O terceiro internauta, por sua<br />

vez, sugere que o sexualismo é <strong>uma</strong> diferença entoada, porém pouco<br />

visível trazida por aqueles que migraram e que no presente se revelam.<br />

Em comum, vislumbro o problema <strong>de</strong> inversão <strong>de</strong> sentidos do cultural. A<br />

cultura é concebida como um compartimento isolável da vida urbana e<br />

não como a própria vida urbana. Trata-se, pois, <strong>de</strong> um problema cultural<br />

contemporâneo <strong>de</strong> usos da cultura. Parto <strong>de</strong>ssa questão para interpretar<br />

a narrativa do paranaense Charles Narloch 133 .<br />

O Sr. Charles é um filiado da Associação Arco-Íris e ocupa<br />

atualmente o cargo <strong>de</strong> diretor executivo da FCJ. Migrou com a família<br />

para <strong>Joinville</strong> em 1982. A <strong>de</strong>cisão foi tomada pelos pais 134 após sua<br />

frustrada tentativa <strong>de</strong> suicídio.<br />

130 OPINIÃO do internauta. a notícia, <strong>Joinville</strong>, 7 maio 2009. Disponível em: . Acesso: 28 jun. 2009.<br />

131 Id. Ibid.<br />

132 Id. Ibid.<br />

133 NARLOCH, Charles. Depoimento. entrevista concedida a Fernando Cesar sossai e ilanil<br />

Coelho. <strong>Joinville</strong>, 1.º fev. <strong>2010</strong>.<br />

134 É o filho caçula <strong>de</strong>ntre quatro do casal.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!