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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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exigia, para o bom entendimento, a percepção das circunstâncias e da<br />

mobilida<strong>de</strong> que, contraditoriamente, confrontavam o seu próprio gesto <strong>de</strong><br />

fixação e <strong>de</strong> linearida<strong>de</strong> do rememorado.<br />

Duas mobilizações para a construção <strong>de</strong> <strong>uma</strong> ponte <strong>de</strong> concreto sobre<br />

o Rio Cubatão reuniram, segundo ele, aproximadamente mil pessoas. Elas<br />

ocorreram após dois dias <strong>de</strong> chuva torrencial. Os moradores conseguiram a<br />

presença do então prefeito Luiz Gomes. Conta o Sr. Rosalino que, chegando<br />

ao local, o prefeito “subiu na mesa e escreveu com carvão na pare<strong>de</strong>: ‘tal<br />

dia eu começo a ponte’. E realmente, no dia marcado começou a chegar<br />

a estrutura da ponte”.<br />

No todo do relato não é possível <strong>de</strong>finir se os movimentos pela<br />

construção da ponte foram anteriores, posteriores ou mesmo concomitantes<br />

àqueles que reivindicaram o posto policial, o abastecimento <strong>de</strong> água potável,<br />

a pavimentação da rua principal, a construção da igreja ou mesmo o<br />

movimento pela anexação. Trata-se, pois, <strong>de</strong> <strong>uma</strong> narrativa <strong>de</strong> fazeres sobre<br />

o território, os quais o <strong>de</strong>limitam, mas também <strong>de</strong>slocam e multiplicam<br />

seus limites/fronteiras. Parece-me ainda que sobre esses fazeres há riscos<br />

que foram assumidos pelos moradores, mas não completamente calculados<br />

e conhecidos, como quer fazer crer o entrevistado. Em outras palavras,<br />

as fotografias sobre o território do Jardim Paraíso que o narrador me<br />

ofereceu são reveladas apenas pelo movimento ou projeção do filme ou<br />

ainda pela sequência <strong>de</strong> sli<strong>de</strong>s do power point que tem como roteiro as<br />

vivências (práticas das diferenças) e as táticas individuais e coletivas <strong>de</strong><br />

reterritorialização <strong>migrante</strong>.<br />

Por outro lado, no Paraíso, morar é um verbo que na narrativa <strong>de</strong><br />

memória do Sr. Rosalino sempre pe<strong>de</strong> um complemento que qualifique o<br />

bairro positivamente. Parece-me que não é possível a ele dizer simplesmente<br />

que mora no Paraíso. É necessário, <strong>de</strong> partida, dizer ao outro que o ouve<br />

que o bairro é bom, todos se conhecem e não é tão violento.<br />

Ao afirmar que “eu não sei se eu me adaptaria a outro bairro, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

estar impregnado nele”, critica aqueles, inclusive a mídia, que “só olham para<br />

o Paraíso” para falar <strong>de</strong> problemas e violência urbana, mas esquecem que<br />

hoje a violência tá aqui, a comunida<strong>de</strong> se organiza,<br />

a polícia ataca essa área aqui e eles vão para outro.<br />

Hoje o Morro do Meio 122 tá muito mais violento<br />

122 Bairro localizado na zona sudoeste da cida<strong>de</strong>. Embora tenha sido criado somente em “12<br />

<strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1990” pela Lei n.º 2.376, “as transformações socioeconômicas no município”<br />

durante as décadas <strong>de</strong> 1950, 1960 e 1970 contribuíram significativamente para <strong>uma</strong> “ocupação<br />

mais efetiva do bairro”. PREFEITURA MUNICIPAL DE JOINVILLE. Op. cit. p. 65.

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