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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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os nor<strong>de</strong>stinos compartilharem pertencimentos, mas principalmente para<br />

serem i<strong>de</strong>ntificados pelos outros como nor<strong>de</strong>stinos.<br />

Outras ações narrativas reivindicaram territórios e me permitiram<br />

enten<strong>de</strong>r como a produção da diferença se efetiva em espaços conectados<br />

e aparentemente <strong>de</strong>sconectados da cida<strong>de</strong>. Os sujeitos narram num<br />

presente e vivem o presente da narrativa. Possuem <strong>de</strong>sejos políticos e<br />

<strong>de</strong>mandas <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> que se projetam no espaço narrado. As fronteiras<br />

físicas e simbólicas são operadas para lidar com as i<strong>de</strong>ntificações entre os<br />

diferentes sujeitos e entre eles e o espaço. É nessa perspectiva que procuro<br />

discutir os <strong>de</strong>sejos sobre territórios reivindicados em alguns relatos.<br />

Volto ao Jardim Paraíso agora pela narrativa do Sr. Rosalino dos<br />

Santos, <strong>migrante</strong> <strong>de</strong> Campos Novos 112 .<br />

O Sr. Rosalino passou a infância e parte da juventu<strong>de</strong> no meio rural.<br />

Após a morte <strong>de</strong> seu pai, a mãe <strong>de</strong>cidiu mudar para Curitibanos. Diante <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>savenças familiares, ele saiu <strong>de</strong> casa com 12 anos. Por quatro anos foi<br />

“menino <strong>de</strong> rua” e, segundo sua opinião, essa experiência constitui o seu<br />

maior “patrimônio” pessoal. Dormir ao léu, alimentar-se <strong>de</strong> restos tirados<br />

do lixo, conviver com outros meninos <strong>de</strong> rua, enfrentar a imprevisibilida<strong>de</strong><br />

como forma <strong>de</strong> vida, <strong>de</strong>slocar-se clan<strong>de</strong>stinamente e camuflar sua própria<br />

presença no espaço público, eis alg<strong>uma</strong>s das táticas <strong>de</strong> sobrevivência<br />

que, ao serem narradas, serviram ao Sr. Rosalino para explicitar aos<br />

interlocutores que, <strong>de</strong> cada <strong>uma</strong> <strong>de</strong>las, pô<strong>de</strong> tirar proveito. Diz ele:<br />

Se não estiver naquele ambiente não dá pra saber<br />

o que é certo e errado, né? [...] eu tenho esse<br />

orgulho <strong>de</strong> nunca ter roubado e nunca ter pedido<br />

as coisas pra... eu sempre pedia serviço. [...] Mas<br />

isso aí serviu até hoje, né? Que na minha função<br />

hoje 113 isso ajuda muito porque se eu encontro um<br />

112 O Sr. Rosalino nasceu em 27 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1956. É o sétimo filho, entre <strong>de</strong>z, <strong>de</strong> um casal<br />

<strong>de</strong> agricultores. A família morou em várias fazendas próximas a Curitibanos. O pai foi “peão<br />

<strong>de</strong> fazenda e mascate”. É casado com Lucilena Ramos dos Santos, com quem tem três filhos:<br />

“Rudinei, nascido em <strong>1980</strong>. A Indianara é nascida em 1982... em 1983, e a Greci Keli em<br />

1985”. Cf.: SANTOS, Rosalino A. Op. cit.<br />

113 É servidor da Prefeitura <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>, atuando no setor <strong>de</strong> segurança patrimonial. Após<br />

ter trabalhado por <strong>de</strong>z anos n<strong>uma</strong> empresa joinvilense, resolveu sair e “trabalhar por conta<br />

própria”. Tornou-se pedreiro. N<strong>uma</strong> <strong>de</strong> suas passagens pelo centro viu o edital <strong>de</strong> concurso da<br />

Prefeitura. Inscreveu-se e foi aprovado. Diz ele: “Quando eu entrei a trabalhar como vigilante<br />

na prefeitura eu já me sentia um vencedor, <strong>de</strong> repente em 93 eu fiz o concurso e passei em<br />

segundo lugar, e passei a ser o fiscal da prefeitura, e hoje eu sou coor<strong>de</strong>nador, então não tem<br />

como eu dizer que não me consi<strong>de</strong>ro um vencedor ... pra quem foi um menino <strong>de</strong> rua e hoje<br />

está <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo a segurança da Prefeitura Municipal <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>, [...] não tem como dizer<br />

que é um per<strong>de</strong>dor”. Id. Ibid.

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