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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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jogo, do seu lugar, o narrador busca atribuir ao seu próprio relato – <strong>de</strong><br />

trajeto e <strong>de</strong> experiência <strong>de</strong> trânsito no espaço urbano – <strong>uma</strong> qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> mapa e não apenas <strong>uma</strong> “prática espacializante” 108 .<br />

Todavia, como lembra Certeau, “os relatos contam” e, mais do<br />

que “colonizar o espaço” como o mapa, “são feituras <strong>de</strong> espaço” 109 . Por<br />

isso, nas narrações estão também presentes “operações <strong>de</strong> <strong>de</strong>marcação”,<br />

pelas quais os narradores “especificam ‘espaços’ pelas ações <strong>de</strong> sujeitos<br />

históricos” 110 .<br />

Dessa perspectiva é possível enten<strong>de</strong>r também como, em<br />

cada relato, fronteiras são estabelecidas e <strong>de</strong>slocadas por meio dos<br />

sentidos que os narradores imprimem às interações com personagens,<br />

acontecimentos e lugares.<br />

Se as fronteiras emergem quando o narrador lida com a<br />

diferença, a cida<strong>de</strong> como referência <strong>de</strong> espaço (lugar praticado) po<strong>de</strong><br />

ser transformada em objeto-território <strong>de</strong> disputa a ser reterritorializado.<br />

O narrador, ao explicitar os sentidos e os sentimentos <strong>de</strong> pertencimento,<br />

quer que a sua narrativa traia um or<strong>de</strong>namento territorial urbano imposto<br />

(preestabelecido). Insinua que as suas distintivida<strong>de</strong>s e os seus trajetos<br />

(lugares praticados) são dotados <strong>de</strong> força o suficiente para propor <strong>uma</strong><br />

nova referência <strong>de</strong> colonização do espaço – um novo mapa –, no qual<br />

almeja subsumir outros trajetos, outros lugares e outras práticas cotidianas<br />

daqueles que pensa serem seus semelhantes e seus diferentes.<br />

Tal reflexão foi possível quando coloquei em causa a<br />

nor<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong> como questão presente na narrativa tanto do Sr. Cardoso<br />

como, coinci<strong>de</strong>ntemente, <strong>de</strong> outro Luiz. O projeto do centro cultural do<br />

Sr. Cardoso exprime o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ancorar a nor<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong> reivindicandolhe<br />

não apenas um lugar, mas o reconhecimento <strong>de</strong>sse lugar como um<br />

território específico na cida<strong>de</strong>. Vejamos como tal intento também se<br />

manifesta na narrativa do Sr. Luiz Vicente 111 .<br />

O pernambucano Luiz Vicente conhece muitos moradores <strong>de</strong><br />

<strong>Joinville</strong>. Chegou em 1994 e <strong>de</strong> lá para cá, diz ele, “a cida<strong>de</strong> cresceu<br />

muito por causa dos <strong>migrante</strong>s”. O estabelecimento <strong>de</strong> seu “Ponto <strong>de</strong><br />

Acarajé” foi <strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ia que surgiu quando nas suas idas ao Mercado<br />

Público Municipal ficava observando o movimento. Decidiu começar a<br />

108 CERTEAU, Michel <strong>de</strong>, 1994. Op. cit. p. 206.<br />

109 Id. Ibid. p. 207.<br />

110 Id. Ibid. p. 203.<br />

111 VICENTE, Luiz. Op. cit.

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