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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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301<br />

Para lembrar Certeau, nas maneiras <strong>de</strong> fazer do Sr. Gue<strong>de</strong>s e<br />

do Sr. Cardoso apresentam-se suas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> do<br />

tipo estratégica e tática. Se o lugar social do Sr. Gue<strong>de</strong>s se situa no<br />

âmbito “do teatro <strong>de</strong> operações” das “estratégias do forte” 107 , é nesse<br />

mesmo âmbito que suas apropriações, <strong>de</strong> caráter i<strong>de</strong>ntitário, se revelam<br />

como táticas <strong>de</strong> resistência e <strong>de</strong> confronto que são vislumbradas nas<br />

(re)invenções ligadas aos seus <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> brasilida<strong>de</strong> e negritu<strong>de</strong> n<strong>uma</strong><br />

“terra <strong>de</strong> alemães”.<br />

Para o Sr. Cardoso, “na liberda<strong>de</strong> gazeteira” <strong>de</strong> suas práticas,<br />

brasilida<strong>de</strong> e negritu<strong>de</strong> não têm como referência a “terra <strong>de</strong> alemães”,<br />

mas os hibridismos e as traduções que, a um só tempo, os <strong>de</strong>frontam<br />

e os acordam. Quando ponho em causa as suas afirmações sobre a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que na vida é preciso “recolher tudo... olhar pra fora”,<br />

“porque aí sim, relaciona cultura com a pessoa” e “se consegue ver as<br />

coisas”, não “aquilo que falta, mas aquilo que tu po<strong>de</strong> fazer”, tenho à<br />

frente, empiricamente, a problemática da diferença e da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> como<br />

processo vivenciado, e não um resultado enunciado. Enfim, enredos em<br />

re<strong>de</strong> e re<strong>de</strong>s em enredos.<br />

3.4 TERRITÓRIOS E FRONTEIRAS<br />

Como é possível pelas narrativas <strong>de</strong> memória perscrutar pertenças<br />

que reivindicam e buscam estabelecer territórios no espaço urbano<br />

joinvilense?<br />

Em alg<strong>uma</strong>s narrativas <strong>de</strong> memória, territórios ora são indiciados<br />

como pressupostos dados, conhecidos e externos aos atos narrativos,<br />

ora são reclamados pelos narradores como se a própria narrativa<br />

pu<strong>de</strong>sse servir como referência para um plotador oficial marcar<br />

novos pontos no mapa da cida<strong>de</strong>. Penso tratar-se, nos dois casos, <strong>de</strong><br />

territórios construídos pelas ações narrativas e, <strong>de</strong>sse modo, que buscam<br />

estabelecer verossimilhança entre a experiência relatada e a concretu<strong>de</strong><br />

do território indiciado. Daí a análise das narrativas não per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista<br />

que as reivindicações em prol da veracida<strong>de</strong> e do reconhecimento<br />

dos territórios urbanos estão articuladas com as reivindicações dos<br />

narradores em prol da legitimida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu po<strong>de</strong>r sobre eles. Nesse<br />

107 CERTEAU, Michel <strong>de</strong>. a invenção do cotidiano: artes <strong>de</strong> fazer. 10. ed. Tradução <strong>de</strong> Ephraim<br />

Ferreira Alves. Petrópolis: Vozes, 1994. p. 19.

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