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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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300<br />

aos seus processos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação urbana. Parecia não querer que<br />

nada lhe escapasse da memória e da narrativa, mesmo o inenarrável.<br />

As múltiplas personagens, os diversos acontecimentos, lugares e<br />

tempos foram e voltaram, confrontando-se perturbadoramente. No fim<br />

da entrevista parecia extenuado. Na frouxidão <strong>de</strong> sua fala final, cito<br />

alg<strong>uma</strong>s <strong>de</strong> suas (in)conclusões. Diz ele:<br />

A gente tem que aproveitar os momentos <strong>de</strong><br />

escutar para po<strong>de</strong>r falar algo [...], as pessoas não<br />

po<strong>de</strong>m ficar sozinhas. Essa questão <strong>de</strong> andar<br />

junto é princípio. [...] Nós aqui, falar da igreja ou<br />

falar da política. [...] Recolher tudo, olhar para<br />

fora... e a gente não po<strong>de</strong> ficar fechado em casas.<br />

Temos que sair, conversar, porque na conversa<br />

quem consegue ver as coisas não vê aquilo que<br />

precisa, aquilo que falta, mas aquilo que tu po<strong>de</strong><br />

fazer 106 .<br />

A análise das entrevistas do Sr. Gue<strong>de</strong>s e do Sr. Cardoso aponta<br />

para questões que me permitem mais <strong>uma</strong> vez ressaltar as diferenças e<br />

semelhanças entre <strong>de</strong>slocamentos, travessias e apropriações enredadas<br />

e enredáveis nas vivências urbanas.<br />

Em primeiro lugar, as narrativas ensejam novas possibilida<strong>de</strong>s<br />

para a compreensão <strong>de</strong> como as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> vinculadas aos<br />

<strong>migrante</strong>s <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong> po<strong>de</strong>m produzir – em tensão – tanto solidarieda<strong>de</strong>s<br />

como recusas. O que me parecia ser central para a análise – o ambiente<br />

fabril – lançou novos problemas que acabaram por <strong>de</strong>mover o que eu<br />

consi<strong>de</strong>rava como fundamental. As diferenças entre ambos (empresário<br />

e operário), que a princípio “<strong>de</strong> longe e <strong>de</strong> fora” me pareciam ser a pedra<br />

<strong>de</strong> toque para explicar conflitos e contradições existentes, assumiram<br />

escalas imprevisíveis diante dos hibridismos e traduções culturais<br />

explicitados nas narrativas.<br />

Além disso, os processos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação fluidos, evocados pelas<br />

subjetivida<strong>de</strong>s espraiadas no trabalho da palavra <strong>de</strong> ambos, sugerem<br />

furtivas inversões e acionamentos <strong>de</strong> critérios étnicos, imbricados<br />

na configuração dos novos jogos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r emergentes na cida<strong>de</strong><br />

contemporânea. Obviamente que, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do referencial que se<br />

adota, sobre ambos vigora <strong>uma</strong> distribuição <strong>de</strong>sigual <strong>de</strong> forças e <strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong>r.<br />

106 CARDOSO, Luiz Carlos <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros. Op. cit.

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