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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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cultura. Mudou da questão cultural do homem e<br />

da mulher germânica para um lado financeiro. Um<br />

lado que o empresarial que articula, que investe,<br />

que vai fazer isso e quer o retorno daquilo. Então,<br />

acho que per<strong>de</strong>u-se 105 .<br />

O contrário estaria ocorrendo no Parque <strong>Joinville</strong> com os<br />

nor<strong>de</strong>stinos, “porque aí sim, relaciona cultura com a pessoa”. Lembra<br />

que eles começaram a aparecer nos anos 1990. Conhece a história <strong>de</strong><br />

alguns que são seus vizinhos. Mas há muitos outros que conheceu<br />

na comunida<strong>de</strong> Nossa Senhora Aparecida. Explicando-nos que, para<br />

os <strong>migrante</strong>s que chegam àquela região, a igreja é o primeiro lugar<br />

que procuram para se sentirem acolhidos, ele e sua família passaram<br />

a conviver e se envolver nas ativida<strong>de</strong>s que eles promovem. A festa<br />

nor<strong>de</strong>stina teria sido i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> um padre cearense que passou um período<br />

na igreja e que, com frequência, participava <strong>de</strong> almoços festivos<br />

preparados pelos nor<strong>de</strong>stinos.<br />

A primeira festa ocorreu em fevereiro <strong>de</strong> 2008. Na segunda, diz<br />

ele, “<strong>de</strong>u mais <strong>de</strong> duas mil pessoas no galpão da igreja. E a gente não<br />

levou isso para <strong>Joinville</strong> toda”. Entretanto “a gente percebeu quando as<br />

pessoas... porque assim, a gente teve alg<strong>uma</strong>s reuniões... não só <strong>uma</strong><br />

festa foi <strong>de</strong>senvolvida... a gente quer montar aqui um centro cultural”.<br />

O projeto do centro cultural, segundo <strong>de</strong>screve, <strong>de</strong>verá promover<br />

eventos, realizar cursos <strong>de</strong> culinária e <strong>de</strong> artesanato, dar assistência<br />

aos nor<strong>de</strong>stinos que chegam à cida<strong>de</strong>. O mais importante, “não sou eu<br />

catarina fazer [...], o nor<strong>de</strong>stino faz”.<br />

À medida que o Sr. Cardoso refletia sobre os seus pertencimentos,<br />

percebi seu esforço em buscar respostas convincentes não apenas para<br />

os seus interlocutores, mas sobretudo para si. Assim como narrou o<br />

seu envolvimento nos projetos da festa nor<strong>de</strong>stina e do centro cultural,<br />

também buscou esclarecer o porquê <strong>de</strong> apreciar os bailes no CTG<br />

próximo a sua casa e o “churrasco <strong>de</strong> chão” que às vezes algum<br />

vizinho faz. Falou da convivência com os paranaenses e o que apren<strong>de</strong>u<br />

com eles; <strong>de</strong> suas participações esporádicas no pago<strong>de</strong>; dos vizinhos<br />

italianos que falam alto; dos jovens e adolescentes que não <strong>de</strong>sfrutam<br />

<strong>de</strong> muitas opções no bairro. Enfim, parece-me que a própria entrevista<br />

transformou-se num enredo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobertas sobre as conexões e as<br />

<strong>de</strong>sconexões <strong>de</strong> suas experiências do passado e do presente em relação<br />

105 CARDOSO, Luiz Carlos <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros. Op. cit.

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