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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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Vejo aí também imbricados os sentidos que o Sr. Gue<strong>de</strong>s imprime<br />

às re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> lazer pelas quais ele se moveu no passado, bem como<br />

aquelas em que atualmente se move e apoia. Diz ele: “Eu gosto mais<br />

das coisas do Brasil mesmo. Eu gosto <strong>de</strong> futebol, eu gosto <strong>de</strong> samba,<br />

eu sou preto”. Em <strong>Joinville</strong>, excetuando-se eventos futebolísticos, não<br />

participava <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s sociais. Nos últimos anos, entretanto, frequenta<br />

e apoia eventos que valorizam o samba. Referindo-se ao Kênia Clube,<br />

afirma: “Eu quero que o Kênia seja a casa do samba <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong><br />

novamente! [...] Talvez eu esteja apoiando até como um protesto n<strong>uma</strong><br />

terra <strong>de</strong> alemão que não aceita as coisas <strong>de</strong> fora. Talvez isso esteja no<br />

meu subconsciente”.<br />

Cabe aqui <strong>uma</strong> digressão para contextualizar esse direito <strong>de</strong><br />

memória e <strong>de</strong> lugar <strong>de</strong> memória 94 reivindicados pelo Sr. Gue<strong>de</strong>s.<br />

A Socieda<strong>de</strong> Kênia Clube foi fundada em 1960. O jornal A<br />

Notícia, em 1997, trouxe <strong>uma</strong> longa reportagem <strong>de</strong> Marcos <strong>de</strong> Oliveira 95<br />

sobre a entida<strong>de</strong>, colocando em <strong>de</strong>staque o <strong>de</strong>poimento <strong>de</strong> um <strong>de</strong> seus<br />

fundadores, Luiz Paulo do Rosário, o Alegria. Dizia ele que, quando<br />

a entida<strong>de</strong> foi fundada, “existia <strong>uma</strong> divisão entre brancos e negros<br />

e se quiséssemos entrar em um salão <strong>de</strong> baile não havia problema:<br />

podíamos apenas beber cerveja, dançar nem pensar”. A saída era “ter<br />

<strong>uma</strong> socieda<strong>de</strong> on<strong>de</strong> pudéssemos beber e dançar como todo mundo”.<br />

Na reportagem, o então diretor social e <strong>de</strong> eventos do clube, Lino<br />

Barbosa Crispim, o Carioca, <strong>de</strong>clarava que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que migrara do Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro (1994) não tinha encontrado um espaço a<strong>de</strong>quado para o<br />

samba. Prometia <strong>uma</strong> renovação do clube para até mesmo fomentar o<br />

renascimento do carnaval <strong>de</strong> rua em <strong>Joinville</strong> 96 .<br />

Em 2002, n<strong>uma</strong> nova reportagem feita pelo mesmo jornalista,<br />

o presi<strong>de</strong>nte da entida<strong>de</strong> I<strong>de</strong>raldo Luiz Marcos, o Neco, explicava que<br />

a fundação do clube, mais do que respon<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> lazer,<br />

94 Segundo Pierre Nora, “os lugares <strong>de</strong> memória são, antes <strong>de</strong> tudo, restos. A forma extrema<br />

on<strong>de</strong> subsiste <strong>uma</strong> consciência comemorativa n<strong>uma</strong> história que a chama, porque ela a ignora.<br />

[...] Os lugares <strong>de</strong> memória nascem e vivem do sentimento que não há memória espontânea.<br />

[...] se o que eles <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m não estivesse ameaçado, não se teria, tampouco, a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> construí-los. Se vivêssemos verda<strong>de</strong>iramente as lembranças que eles envolvem, eles seriam<br />

inúteis. E se, em compensação, a história não se apo<strong>de</strong>rasse <strong>de</strong>les para <strong>de</strong>formá-los, sová-los<br />

e petrificá-los eles não se tornariam lugares <strong>de</strong> memória”. NORA, Pierre. Entre memória e<br />

história: a problemática dos lugares. Projeto História, São Paulo, n. 10, p. 7-28, <strong>de</strong>z. 1993.<br />

95 OLIVEIRA, Marcos <strong>de</strong>. Socieda<strong>de</strong> Kênia Clube começa nova fase com pago<strong>de</strong>. a notícia,<br />

<strong>Joinville</strong>, 23 ago. 1997.<br />

96 Conforme informado pelo jornal, o carnaval <strong>de</strong> rua em <strong>Joinville</strong> ocorreu entre os anos <strong>de</strong><br />

1978 e 1992.

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