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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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estabelecer distintivida<strong>de</strong>s e para nutrir conflitos e disputas pulsantes<br />

em <strong>Joinville</strong>. A germanida<strong>de</strong> para o entrevistado, embora exaurida do<br />

po<strong>de</strong>r econômico, simboliza um po<strong>de</strong>r ainda capaz <strong>de</strong> mobilizar forças<br />

políticas regionais. Tal po<strong>de</strong>r, ao ser exercido, estaria obstaculizando,<br />

ou melhor, comprometendo o <strong>de</strong>senvolvimento econômico voltado<br />

ao “bem comum”, já que os imperativos globais combinados com as<br />

competências locais <strong>de</strong>veriam confluir para um projeto <strong>de</strong> futuro <strong>de</strong><br />

cida<strong>de</strong>. Diz ele que “o emprego é o início <strong>de</strong> tudo. Tudo <strong>de</strong> bom que você<br />

po<strong>de</strong> ter em um lugar é trazido pelo emprego”. Então, seriam as fábricas<br />

inovadoras e geradoras <strong>de</strong> emprego que <strong>de</strong>veriam ser prioritariamente<br />

reconhecidas e valorizadas pelo potencial <strong>de</strong> futuro que geram, e não<br />

as iniciativas suportadas por um passado, voltadas a reproduzir um<br />

passado germânico sem futuro. Em segundo lugar, é surpreen<strong>de</strong>nte que<br />

critérios étnicos respal<strong>de</strong>m <strong>uma</strong> narrativa sobre as disputas travadas no<br />

interior da elite local. Ao reivindicar o reconhecimento da Tupy, o Sr.<br />

Gue<strong>de</strong>s sugere que seria a própria elite germânica que invisibiliza as<br />

qualida<strong>de</strong>s da empresa (abrasileirada pela migração) e dos seus gestores,<br />

pois não po<strong>de</strong> mais ser tomada como um espelho para refletir os feitos<br />

dos sobrenomes alemães.<br />

Por outro lado, ou na outra ponta, afirmando que a empresa<br />

emprega muitos joinvilenses e <strong>migrante</strong>s, especialmente paranaenses, a<br />

Tupy continuaria (cada vez mais) sendo valorizada pelos que a conhecem<br />

e <strong>de</strong>la retiram o seu sustento. Diz ele que, salvo alg<strong>uma</strong>s exceções, os<br />

funcionários, <strong>de</strong> <strong>uma</strong> maneira geral, “falam bem” da empresa, sabem<br />

que “é séria e coerente”. Ou seja, para o Sr. Gue<strong>de</strong>s, os conflitos com<br />

os funcionários, quando existem, não têm fundo étnico.<br />

Não coloco em questão aqui as razões, os interesses e a lógica<br />

empresarial que impulsionam as afirmações do entrevistado, mas como<br />

ele procura situar cultural e socialmente os conflitos étnicos em sua<br />

narrativa. No interior do espaço fabril eles praticamente inexistiriam,<br />

pois haveria o reconhecimento da empresa não pelo sobrenome dos seus<br />

dirigentes, mas pelo emprego e pelas condições <strong>de</strong> trabalho que ela<br />

oferece, e isso não teria nenh<strong>uma</strong> relação com a cultura na cida<strong>de</strong>. Os<br />

embates estariam n<strong>uma</strong> outra dimensão, em que as estratégias e práticas<br />

do po<strong>de</strong>r econômico e normativo são produzidas e or<strong>de</strong>nadas, em que<br />

as disputas pelo po<strong>de</strong>r local constrangem a globalização localizada e a<br />

localização globalizada 93 .<br />

93 A esse respeito, ver Capítulo I e Capítulo II, quando me refiro à discussão sobre o processo<br />

<strong>de</strong> globalização com base nas <strong>de</strong>finições propostas por Boaventura <strong>de</strong> Sousa Santos.

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