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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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Para a historiadora Sandra Jatahy Pesavento, representação é a<br />

“presentificação <strong>de</strong> um ausente, que é dado a ver segundo <strong>uma</strong> imagem,<br />

mental ou material” 18 . Enquanto trabalho, ocupa-se com a atribuição<br />

<strong>de</strong> sentido. Indivíduos e grupos criam representações e por elas nutrem<br />

condutas, práticas sociais, formas <strong>de</strong> pensar sobre si mesmos e <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir<br />

o real. Assim, metodologicamente, seria possível cruzar dados objetivos<br />

e sociabilida<strong>de</strong>s com as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leituras que as representações<br />

nos oferecem.<br />

A cida<strong>de</strong>, na materialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas formas (perfil e silhueta do<br />

espaço construído), comporta as marcas das suas sociabilida<strong>de</strong>s (relações<br />

sociais, práticas <strong>de</strong> interação e <strong>de</strong> oposição, ritos e festas, comportamentos<br />

e hábitos). Mas há ainda, segundo Pesavento, outro componente a ser<br />

consi<strong>de</strong>rado: “A cida<strong>de</strong> é um fenômeno que se revela pela percepção<br />

<strong>de</strong> emoções e sentimentos dados pelo viver urbano” 19 . Assim, seguindo<br />

as trilhas da autora 20 , metodologicamente é possível perscrutar também<br />

no cruzamento entre dados objetivos, sociabilida<strong>de</strong>s e representações<br />

os processos pelos quais os sentimentos <strong>de</strong> pertencimento urbano se<br />

manifestam.<br />

As possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura que as representações oferecem não<br />

po<strong>de</strong>m, contudo, ser consi<strong>de</strong>radas como reflexas dos objetos ou mesmo<br />

das percepções. O historiador Peter Burke lembra-nos que “o espelho<br />

foi quebrado” 21 , à medida que os filósofos, cientistas sociais, psicólogos<br />

e historiadores verificaram que pessoas diferentes po<strong>de</strong>m ver e perceber<br />

representações sob perspectivas bastante diversas.<br />

Para os propósitos do meu trabalho, o estilhaçamento <strong>de</strong>sse espelho<br />

é impulsionado novamente pelas contribuições <strong>de</strong> Michel <strong>de</strong> Certeau, para<br />

quem “a presença e a circulação <strong>de</strong> <strong>uma</strong> representação [...] não indicam <strong>de</strong><br />

modo algum o que ela é para seus usuários. É ainda necessário analisar<br />

a sua manipulação pelos praticantes que não a fabricam” 22 .<br />

18 PESAVENTO, Sandra Jatahy. Muito além do espaço: por <strong>uma</strong> história cultural do urbano.<br />

estudos Históricos, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 8, n. 16, p. 279-290, 1995. p. 280.<br />

19 PESAVENTO, Sandra Jatahy. Cida<strong>de</strong>s visíveis, cida<strong>de</strong>s sensíveis, cida<strong>de</strong>s imaginárias.<br />

revista Brasileira <strong>de</strong> História, São Paulo, v. 27, n. 53, p. 11-23, 2007. p. 12.<br />

20 Propõe ela que os estudos culturais <strong>de</strong>vem “buscar essa cida<strong>de</strong> que é fruto do pensamento,<br />

como <strong>uma</strong> cida<strong>de</strong> sensível e <strong>uma</strong> cida<strong>de</strong> pensada, urbes que são capazes <strong>de</strong> se apresentarem<br />

mais ‘reais’ à percepção <strong>de</strong> seus habitantes e passantes do que o tal referente urbano na sua<br />

materialida<strong>de</strong> e em seu tecido social concreto”. Id. Ibid. p. 14.<br />

21 BURKE, Peter. o que é História Cultural? Tradução <strong>de</strong> Sérgio Goes <strong>de</strong> Paula. Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro: Jorge Zahar, 2005. p. 100.<br />

22 CERTEAU, Michel <strong>de</strong>. Op. cit. p. 40.<br />

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