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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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engenharia da empresa Tupy 85 , e Luiz Carlos <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros Cardoso 86 ,<br />

44 anos, catarinense <strong>de</strong> Guatá (distrito <strong>de</strong> Lauro Müller 87 ), técnico em<br />

eletrotécnica, operador <strong>de</strong> máquinas da empresa Embraco 88 . Para evitar<br />

confusão, utilizarei o sobrenome dos entrevistados e começo analisando<br />

a narrativa do primeiro, Sr. Gue<strong>de</strong>s.<br />

Migrou para <strong>Joinville</strong> em 1984 “a convite” <strong>de</strong> antigos professores<br />

que haviam fundado o Centro <strong>de</strong> Pesquisas da Tupy. Como estava bem<br />

empregado em São Paulo, hesitou migrar, pois tinha ambições pessoais<br />

focadas na aca<strong>de</strong>mia. As possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> “pesquisar <strong>de</strong> maneira<br />

mais rápida”, <strong>de</strong> maior “valorização do trabalho <strong>de</strong> pesquisador” e da<br />

educação formal e por trabalhar n<strong>uma</strong> empresa cujas pesquisas não<br />

estariam submetidas às flutuações <strong>de</strong> mudanças <strong>de</strong> governo foram<br />

aspectos que pesaram em sua escolha.<br />

No novo ambiente fabril, <strong>de</strong>parou com alguns estranhamentos.<br />

Ainda que no Centro <strong>de</strong> Pesquisas fosse diferente, pois nele trabalhavam<br />

<strong>migrante</strong>s qualificados, cujas relações eram mais próximas às<br />

estabelecidas n<strong>uma</strong> universida<strong>de</strong>, lembra que teve <strong>de</strong> lidar com <strong>uma</strong><br />

rotina fabril “dura e autoritária”, com um “comando forte” e com pessoas<br />

extremamente disciplinadas. Chamava-lhe também atenção o fato <strong>de</strong><br />

pessoas com sobrenome alemão terem maiores facilida<strong>de</strong>s tanto para<br />

contratação como para ascensão hierárquica.<br />

Ao lembrar que o relacionamento funcional com a fábrica “era<br />

esporádico”, às vezes, por iniciativa própria, lá circulava para conhecer<br />

melhor as pessoas e os próprios processos <strong>de</strong> produção. Nessas ocasiões,<br />

tinha impressão <strong>de</strong> que era alvo “exótico” e extravagante exposto para<br />

pontaria. Os olhares sobre ele pareciam <strong>de</strong>nunciar sentimentos que<br />

misturavam <strong>de</strong>sgosto e insatisfação com a sua presença, como “lá vem<br />

o pessoal <strong>de</strong> fora... pesquisadores... da universida<strong>de</strong>”. Havia ainda <strong>uma</strong><br />

maioria que questionava o fato <strong>de</strong> a Tupy “trazer pessoas <strong>de</strong> fora”,<br />

dificultando as oportunida<strong>de</strong>s que po<strong>de</strong>riam ser abertas para “os da<br />

85 Segundo Gue<strong>de</strong>s, “a Tupy é a maior empresa <strong>de</strong> fundição da América Latina” e, em termos<br />

<strong>de</strong> parque fabril, “é a maior fundição do mundo”. GUEDES, Luis Carlos. Op. cit.<br />

86 CARDOSO, Luiz Carlos <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros. Op. cit.<br />

87 Cida<strong>de</strong> catarinense situada na região da Serra do Rio do Rastro. O IBGE estimou em<br />

2001 <strong>uma</strong> população <strong>de</strong> 13.604. Disponível em: . Acesso em: 28 fev. <strong>2010</strong>.<br />

88 De acordo com o entrevistado, a Embraco, “empresa do setor metal-mecânico [...], é a maior<br />

fabricante <strong>de</strong> compressores do mundo”. CARDOSO, Luiz Carlos <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros. Op. cit.

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