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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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já faz quatorze anos. Encontrei o meu amor e criei os meus filhos”. Por<br />

outro lado, ao se situar no presente <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong> evocou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

os seus semelhantes <strong>migrante</strong>s se situarem da mesma forma. Deixar-se<br />

assimilar pelas peculiarida<strong>de</strong>s joinvilenses é <strong>uma</strong> maneira pela qual a<br />

entrevistada negou e ao mesmo tempo reafirmou os lugares <strong>de</strong>siguais<br />

instituídos pela migração recente. Seu olhar “realista-romântico” 83<br />

projeta <strong>uma</strong> espécie <strong>de</strong> Cozinha Comunitária do Jardim Paraíso. Não<br />

se trata <strong>de</strong> inserir-se n<strong>uma</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> para preparar e servir<br />

refeições aos mais necessitados, mas metaforicamente <strong>de</strong>ixar que as<br />

refeições (preparadas com ingredientes e <strong>de</strong> forma original) sejam<br />

servidas à mesa para <strong>de</strong>gustação e <strong>de</strong>leite <strong>de</strong> todos (mais e menos<br />

inocentes) e, sobretudo, para nutrir o seu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> futuro <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>.<br />

3.3 EM REDES<br />

As re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> que moveram os fluxos migratórios<br />

recentes, assim como outras criadas ou apropriadas pelos <strong>migrante</strong>s no<br />

contexto urbano, sugerem práticas enredadas no passado e no presente.<br />

As narrativas trazem-nas, acionando-as para dar significado ao próprio ato<br />

<strong>de</strong> migrar e, principalmente, para exprimir os pertencimentos à cida<strong>de</strong>.<br />

Duas personagens com o mesmo nome, porém com histórias<br />

bastante diferentes, foram entrevistadas porque ambas estão engajadas<br />

na organização <strong>de</strong> lazeres urbanos, e a princípio um lugar me parecia<br />

comum às duas: a indústria, a fábrica. Entretanto os significados <strong>de</strong>sses<br />

lugares para suas trajetórias e para suas práticas no presente, ao serem<br />

subjetivamente construídos, exprimiram diferenças tão acentuadas<br />

que os objetivos iniciais das entrevistas, se não <strong>de</strong>rrocados, exigiram<br />

esforços redobrados para, por meio da interpretação historiográfica,<br />

contemplá-los na composição <strong>de</strong>ssa intriga histórica.<br />

Essas pessoas são Luis Carlos Gue<strong>de</strong>s 84 , 55 anos, paulistano,<br />

engenheiro metalúrgico, atual vice-presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> operações e<br />

83 Conforme Sarlo, o modo realista-romântico é aquele “em que o sujeito que narra atribui<br />

sentidos a todo <strong>de</strong>talhe pelo próprio fato <strong>de</strong> que ele o inclui em seu relato; e, em contrapartida,<br />

não se crê obrigado a atribuir sentidos nem explicar as ausências” ou as invisibilida<strong>de</strong>s. SARLO,<br />

Beatriz. Op. cit. p. 51.<br />

84 GUEDES, Luis Carlos. Depoimento. entrevista concedida a Fernando Cesar sossai e<br />

ilanil Coelho. <strong>Joinville</strong>, 24 jun. 2009.

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