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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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Maria Raquel e as suas reivindicações para reparar os “estragos” feitos<br />

pelos menos ingênuos e mais dominadores, cujas presenças fizeram com<br />

que <strong>Joinville</strong> “per<strong>de</strong>sse” sua “i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>” e “cultura”.<br />

“Valorizar o lugar”, “cuidar da cida<strong>de</strong>” e respeitá-la é “sentirse<br />

parte <strong>de</strong>la” nos mínimos <strong>de</strong>talhes. Eis o direito <strong>de</strong> memória e <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> que, segundo a entrevistada, <strong>de</strong>ve direcionar os <strong>migrante</strong>s e<br />

os pertencimentos urbanos. Ao falar <strong>de</strong> tradições, faz <strong>uma</strong> crítica aos<br />

modismos das festas gauchescas, que consi<strong>de</strong>ra que “não têm nada a<br />

ver”. Menciona a Festa das Tradições, que acredita ser “<strong>uma</strong> jogada<br />

política para dizer que <strong>Joinville</strong> tem festa também, não é só Blumenau”.<br />

É em outras festas, as quais cost<strong>uma</strong> frequentar, que a cida<strong>de</strong> parece<br />

ainda “ter tradição”. Refere-se à Festa do Pato 81 , à Festa do Arroz e à<br />

Festa do Pescador 82 .<br />

Não importa aqui discutir o caráter tradicional das festas atribuído<br />

pela entrevistada, mas a importância por ela dada aos vestígios cotidianos<br />

que lhe parecem exprimir as tradições <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>. Supostamente longe<br />

<strong>de</strong> <strong>uma</strong> ingerência artificial, tais sociabilida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>riam ser fortalecidas<br />

e apropriadas pelos <strong>migrante</strong>s para, com isso, ajudar <strong>Joinville</strong> a suportar<br />

suas peculiarida<strong>de</strong>s.<br />

Parece-me que o trabalho da memória e da palavra na narrativa<br />

da Sra. Maria Raquel transformou a rememoração dos seus passados<br />

na metrópole como não <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> futuro. Disse que “mesmo tendo que<br />

cavar o meu lugarzinho ao sol [...] a cida<strong>de</strong> me <strong>de</strong>u condições <strong>de</strong> me<br />

<strong>de</strong>senvolver economicamente, emocionalmente. Aqui eu casei <strong>de</strong> novo e<br />

81 Em 2009 ocorreu a 8.ª edição da Festa do Pato. O evento é realizado na Socieda<strong>de</strong><br />

Esportiva e Recreativa União Mildau, na Estrada Mildau, em Pirabeiraba. Embora o lazer<br />

tenha sido o principal motivo para os moradores da região promoverem a festa, ao longo<br />

das edições ela passou a ser divulgada como “exemplo <strong>de</strong> preservação dos costumes dos<br />

i<strong>migrante</strong>s germânicos, cuja simplicida<strong>de</strong> e tradições são <strong>de</strong>legadas <strong>de</strong> pais para filhos”. São<br />

servidos pratos à base <strong>de</strong> carne <strong>de</strong> pato, pães e cucas. Na programação constam “coroação<br />

da Boneca Frida e Kin<strong>de</strong>r Fritz”, danças folclóricas e a “corrida do pato”, em que, para<br />

ganhar, o pato competidor “não po<strong>de</strong> voar e o atleta que o conduz não po<strong>de</strong> tocá-lo, apenas<br />

estressá-lo ao extremo. No levantamento <strong>de</strong> informações que realizei sobre a festa, po<strong>de</strong>mse<br />

ler <strong>de</strong>clarações que reverenciam a festa como tradição, bem como rumorosas críticas à<br />

violência e aos maus tratos aos animais. Disponível em: ; ; . Acesso em: 25 fev. <strong>2010</strong>.<br />

82 A 1.ª edição da Festa do Pescador foi em 2005. Organizada pela Associação <strong>de</strong> Moradores<br />

e Colônia <strong>de</strong> Pesca do Morro do Amaral, o objetivo foi assim divulgado: “Contribuir para<br />

transformar a localida<strong>de</strong> em ponto turístico e <strong>de</strong> <strong>de</strong>gustação, com <strong>de</strong>staque para a gastronomia<br />

açoriana, fortalecer a pesca artesanal e melhorar a renda das famílias”. FESTA do Pescador.<br />

Jornal do Boa vista, <strong>Joinville</strong>, p. 2, jul. 2005.

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