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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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<strong>de</strong> inferiorida<strong>de</strong> que estes últimos tinham em relação ao outro que<br />

chegava à cida<strong>de</strong>. Nesse processo, paulistas e cariocas <strong>de</strong>srespeitaram<br />

as especificida<strong>de</strong>s locais, imprimindo suas próprias marcas culturais,<br />

qual seja, a “mistureba” <strong>de</strong> culturas.<br />

Em segundo lugar, a sua narrativa permite refletir sobre como<br />

as diferenças nas diferenças po<strong>de</strong>m ser concebidas e reconhecidas num<br />

jogo <strong>de</strong> representações hierarquizadas. Referindo-se aos <strong>migrante</strong>s<br />

paranaenses, explica que “o paranaense e o joinvilense acabaram virando<br />

a mesma coisa, porque é muito tempo <strong>de</strong> migração”. Tal fusão foi<br />

possível porque, ao contrário dos <strong>migrante</strong>s que vieram das metrópoles,<br />

os paranaenses foram assimilados. Conforme suas palavras:<br />

Eu não vejo mais diferença. Eu já tinha<br />

dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ver isso na década <strong>de</strong> 1990. Eu<br />

acho que o paranaense se incorporou <strong>de</strong> tal forma<br />

aqui que <strong>Joinville</strong> também é <strong>de</strong>les. Eu não vejo o<br />

paranaense tão diferente do povo <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong>. Eu<br />

acho que eles vieram para cá... eles são como os<br />

tijolos da pare<strong>de</strong>: eles estão ali, ninguém nota e<br />

estão incorporados àquele estilo <strong>de</strong> vida 79 .<br />

Penso aí residir a pregnância 80 <strong>de</strong> sua narrativa. Ao atribuir<br />

a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “tijolos da pare<strong>de</strong>” aos paranaenses, exprime, a seu<br />

modo, como vê as relações que invisibilizam tanto os <strong>migrante</strong>s como<br />

os locais. A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> “incorporação” aproxima-se com a <strong>de</strong> assimilação.<br />

Ou seja, trata-se <strong>de</strong> um processo pelo qual um grupo é absorvido por<br />

outro, maior ou mais po<strong>de</strong>roso. De certa forma, há também um critério<br />

valorativo que <strong>de</strong>termina o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> assimilação. Quanto maiores e mais<br />

“misturadas” as “culturas” das cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> on<strong>de</strong> proveem, maior po<strong>de</strong>r<br />

terão os <strong>migrante</strong>s ou os locais para submeter ou incorporar os outros.<br />

O resultado do jogo entre caracterização e <strong>de</strong>scaracterização urbana<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, então, do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> assimilação dos sujeitos que estão em<br />

campo. Penso residirem aí os sentidos que a um só tempo significam<br />

no conjunto as memórias <strong>de</strong> travessia e <strong>de</strong> vivências urbanas da Sra.<br />

79 MATTOS, Maria Raquel Migliorini <strong>de</strong>. Op. cit.<br />

80 Por pregnância consi<strong>de</strong>ro o expresso por Alberti. Diz ela: “Po<strong>de</strong>mos dizer que a entrevista<br />

oral se torna mais pregnante quando o fluxo dos acontecimentos está or<strong>de</strong>nado por, e ao<br />

mesmo tempo or<strong>de</strong>na, um sentido”. Assim, “quando a relação entre acontecimentos e sentido<br />

se con<strong>de</strong>nsa, ou se imobiliza”, i<strong>de</strong>ntifica-se o momento, ou melhor, as passagens e citações<br />

da entrevista que são pregnantes. ALBERTI, Verena, 2004b. Op. cit. p. 84.

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