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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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ou melhor, os rituais que acorrem para dar-lhe concretu<strong>de</strong> constituem a<br />

dimensão <strong>de</strong> on<strong>de</strong> a Sra. Ana Rosa dá sentido à sua própria vida. Nesse<br />

limiar, estão imbricadas as questões sempre encaradas pela entrevistada<br />

como inevitáveis para serem taticamente resolvidas.<br />

Pois bem, em que medida as narrativas do Sr. Mauro e da Sra.<br />

Ana Rosa se aproximam ou se distanciam quando o assunto é migração<br />

e cida<strong>de</strong> contemporânea?<br />

O passado narrado pela Sra. Ana Rosa traz também fissuras<br />

para a intriga histórica. A entrevistada não escolheu migrar. Não veio<br />

em busca <strong>de</strong> emprego. A i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida nem sequer foi<br />

lembrada. Pela sua narrativa, migrou para respon<strong>de</strong>r a <strong>uma</strong> <strong>de</strong>manda<br />

<strong>de</strong> sua re<strong>de</strong> familiar e, principalmente, submetida à violência doméstica,<br />

para continuar <strong>de</strong>sempenhando o inevitável papel <strong>de</strong> mãe, dona <strong>de</strong><br />

casa e esposa, prescrito em 1970. O presente <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> narrado pela<br />

entrevistada não alu<strong>de</strong> aos trânsitos físicos e virtuais. A cida<strong>de</strong> é o<br />

seu bairro. Raramente vai ao centro, mas, como o Sr. Mauro, tem seus<br />

reclamos e suas admirações.<br />

No Jardim Paraíso, haveria graves problemas <strong>de</strong> “jovens que estão<br />

nas drogas”, <strong>de</strong> adultos alcoólatras e <strong>de</strong> brigas que, às vezes, acabavam<br />

“em matanças”. Ainda que “hoje melhorou”, consi<strong>de</strong>ra ser preciso<br />

combater o abandono afetivo que atinge a maior parte dos moradores.<br />

Talvez a solução pu<strong>de</strong>sse ser um trabalho da Associação dos Moradores<br />

e da Igreja, apesar <strong>de</strong> que “porta <strong>de</strong> Igreja não salva ninguém”. Outros<br />

lazeres que não os bailes que ocorriam num “salãozinho”, agora fechado<br />

por falta <strong>de</strong> alvará, po<strong>de</strong>riam ser promovidos.<br />

O “abismo social” em <strong>Joinville</strong>, ainda que inexista na visagem<br />

do Sr. Mauro, é problema que a Sra. Ana Rosa consi<strong>de</strong>ra como<br />

um dos mais graves no bairro. Há muitas pessoas carentes e sem<br />

trabalho que são acorridas pela Cozinha Comunitária 65 , com a qual<br />

65 Projeto criado em 1994 e mantido pela Fundação Pauli-Madi. Li<strong>de</strong>rado pelo Pe. Luiz<br />

Facchini, o projeto combate a fome em <strong>Joinville</strong>. Conforme reportagem, “em cada <strong>uma</strong> das<br />

cozinhas espalhadas por vários bairros da cida<strong>de</strong>, a comunida<strong>de</strong> local é motivada a participar<br />

do projeto: quem prepara as refeições e serve para a criançada são mães voluntárias que<br />

recebem, quinzenalmente, a provisão dos gêneros alimentícios necessários. ‘A idéia não<br />

é apenas suprir a fome física, embora seja muito importante, claro. Mas queremos mais,<br />

queremos ajudar construir nas pessoas o espírito <strong>de</strong> cidadania e solidarieda<strong>de</strong>, fundamental<br />

para a idéia dar certo’, diz Facchini. Além <strong>de</strong> cuidar das tarefas da cozinha em si, os<br />

voluntários também se <strong>de</strong>dicam à arrecadação <strong>de</strong> doações para as famílias. E atuam em<br />

parceria com a fundação, diagnosticando necessida<strong>de</strong>s e sugerindo soluções para problemas<br />

das comunida<strong>de</strong>s em que estão inseridos”. FOME quase zero: Fundação Pauli-Madi mapeia as<br />

regiões carentes e alimenta quem precisa. revista dohler. Disponível em: . Acesso em: 10 jan. <strong>2010</strong>.

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