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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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quero que um passado feliz represente <strong>uma</strong> âncora que me impeça <strong>de</strong><br />

fazer coisas novas”.<br />

Não seria, pois, o caso <strong>de</strong> interpretar tal recusa como restrito<br />

apego afetivo à cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> origem, tampouco como alusões estritamente<br />

<strong>de</strong>squalificadoras sobre certos provincianismos cotidianos que i<strong>de</strong>ntifica.<br />

O que penso estar aí imbricado são as reflexões sobre as escalas <strong>de</strong><br />

tempo e <strong>de</strong> espaço que instam os significados <strong>de</strong> suas experiências do<br />

passado e do presente e o pressionam no próprio processo <strong>de</strong> produção<br />

da sua narrativa <strong>de</strong> memória. No presente vivenciado também estaria em<br />

jogo um futuro tão <strong>de</strong>slizante quanto aquele que experimenta, mas que<br />

precisa <strong>de</strong> <strong>uma</strong> estabilida<strong>de</strong> mínima para ação (incluindo a <strong>de</strong> migrar),<br />

ainda que tal estabilida<strong>de</strong> se manifeste n<strong>uma</strong> negação categórica da<br />

ancoragem em tempos passados e em lugares geograficamente <strong>de</strong>finidos.<br />

Fortalecer seu <strong>de</strong>sprendimento e nomadismo po<strong>de</strong>ria ser encarado<br />

como o lugar que constituiu, na própria narrativa, para governar suas<br />

relações com os outros, próximos e distantes, e or<strong>de</strong>nar as diferenças e<br />

as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s que apenas ganham sentido quando sua subjetivida<strong>de</strong><br />

em relação ao urbano está submetida à avaliação <strong>de</strong> outrem.<br />

Néstor Canclini <strong>de</strong>staca que a “globalização apresenta-se como<br />

um conjunto <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> homogeneização e, ao mesmo tempo,<br />

<strong>de</strong> fragmentação articulada do mundo que reor<strong>de</strong>nam as diferenças<br />

e as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sem suprimi-las” 58 . Não é possível, por isso, na<br />

complexida<strong>de</strong> da contemporaneida<strong>de</strong>, tratar isoladamente tais diferenças<br />

e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s, bem como as assimetrias instituídas quer do ponto <strong>de</strong><br />

vista cultural, quer do ponto <strong>de</strong> vista social. Não se trata <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />

a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> ou nos globalizar; <strong>de</strong> isolar, opondo, o local ao global; <strong>de</strong><br />

dar voz aos silenciados e calar os que silenciaram a voz; <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconectar<br />

experiências aparentemente <strong>de</strong>sconexas, incluindo as <strong>de</strong> migração e <strong>de</strong><br />

vivências em diferentes cida<strong>de</strong>s.<br />

Seguindo as pistas <strong>de</strong> Canclini, não me cabe, na interpretação da<br />

narrativa do Sr. Mauro, contradizer, inverter ou flexibilizar o conceito<br />

<strong>de</strong> <strong>migrante</strong>, no qual se apreen<strong>de</strong> o eixo explicativo <strong>de</strong> suas memórias<br />

<strong>de</strong> travessia. É preciso buscar <strong>uma</strong> compreensão que permita ver<br />

do seu lugar o dos outros <strong>migrante</strong>s (e vice-versa), ou, como sugere<br />

Canclini, buscar nas interseções das narrativas o modo como os sujeitos<br />

representam seus lugares e suas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ação diante daquilo<br />

que eles sentem não controlar.<br />

58 CANCLINI, Néstor García. a globalização imaginada. São Paulo: Iluminuras, 2003. p.<br />

44-45.

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