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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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hospitais renomados e tornou-se professor universitário. Porém, com o<br />

tempo, percebeu que quanto mais se aprimorava profissionalmente pior<br />

ficava sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Em certa ocasião, reencontrou um colega<br />

<strong>de</strong> turma que havia se transferido para <strong>Joinville</strong>. Veio visitá-lo, gostou da<br />

cida<strong>de</strong> e, ao reafirmar “eu não sou um <strong>migrante</strong> no sentido <strong>de</strong>... eu não<br />

sou um <strong>migrante</strong> que veio começar a carreira aqui. Eu estava bem no<br />

Rio”, teria passado a alimentar o dilema entre ficar e partir. Havia um<br />

medo. Ao <strong>de</strong>screvê-lo, o Sr. Mauro procura relacionar as subjetivida<strong>de</strong>s<br />

urbanas instadas pelo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> migrar. Disse ele:<br />

O gran<strong>de</strong> medo <strong>de</strong> quem está n<strong>uma</strong> cida<strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

é o <strong>de</strong> se enterrar! Quando a gente está n<strong>uma</strong><br />

cida<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> a gente tem a impressão <strong>de</strong> que<br />

está dividindo aquela vibração toda. Todos estão<br />

ali por conta disso. Porque acham que têm parte<br />

naquilo ali e acham que quem está fora quer ir<br />

para lá 56 .<br />

Porém teria <strong>de</strong>scoberto que “quem está fora, a última coisa que<br />

quer, é ir para lá [cida<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>]. Você começa a ficar um pouco abalado<br />

em suas convicções”. Além disso, em tempos <strong>de</strong> internet e barateamento<br />

<strong>de</strong> passagens aéreas, continua, “o peso da migração é quase um luxo.<br />

É...‘eu vou morar em um lugar mais tranqüilo e acabou!’”.<br />

Ao buscar comparar genericamente as subjetivida<strong>de</strong>s presentes nas<br />

gran<strong>de</strong>s e médias cida<strong>de</strong>s, o Sr. Mauro procura valorizar os sentimentos<br />

e sentidos existenciais imbricados na sua escolha, os quais colocam em<br />

xeque quaisquer tentativas em qualificá-lo como um <strong>migrante</strong> comum.<br />

Tal operação <strong>de</strong> sentidos lhe possibilita atribuir àqueles que continuam<br />

na “cida<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>” certa ignorância sobre a importância que pensam<br />

ter para a vibração da metrópole, bem como <strong>uma</strong> pretensão enganosa<br />

sobre o que representam para os outros que não vivem nela e <strong>de</strong>la. Por<br />

outro lado, a facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocar-se, seja pela internet, seja <strong>de</strong> avião,<br />

favorece-lhe estabelecer e reafirmar as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s que estão em jogo<br />

quando se preten<strong>de</strong> explicar a história da migração e dos <strong>migrante</strong>s<br />

joinvilenses. Seus medos e dilemas situam-se em outra dimensão que<br />

não a econômica, a qual pensa <strong>de</strong>terminar essencialmente a migração.<br />

A resolução <strong>de</strong>sses medos e dilemas acabou por transformar as suas<br />

angústias nos seus mais prazerosos alentos: morar “num lugar on<strong>de</strong><br />

gostaria <strong>de</strong> passar férias”.<br />

56 PINHO, Mauro <strong>de</strong> Souza. Op. cit.

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