08.05.2013 Views

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

273<br />

travessias, que a um só tempo subsidiam os narradores a compor suas<br />

próprias memórias <strong>de</strong> migração e a significar a história da migração e<br />

<strong>de</strong> outros <strong>migrante</strong>s na cida<strong>de</strong>? Obviamente não se trata <strong>de</strong> conceber<br />

tais sentidos e categorias como criações apriorísticas ou restritas à<br />

entrevista, pois nesse caso negaria o que venho afirmando, baseandome<br />

na bibliografia especializada.<br />

Inicio a discussão com a narrativa do Sr. Mauro <strong>de</strong> Souza Leite<br />

Pinho 53 , carioca, 56 anos, médico. Procurei-o explicitando o meu<br />

interesse em entrevistá-lo: ele é <strong>migrante</strong> que chegou a <strong>Joinville</strong> em<br />

1994. O motivo do encontro foi flexibilizado, ou melhor, ressignificado à<br />

medida que narrava sobre as razões e as condições <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>slocamento.<br />

Disse ele:<br />

A palavra <strong>migrante</strong>, para mim, vem com essa<br />

carga <strong>de</strong> quem vai ganhar a vida na cida<strong>de</strong>, e eu<br />

não vim para ganhar a vida em <strong>Joinville</strong>. Eu não<br />

vim para cá para ganhar dinheiro [...] e isso para<br />

mim <strong>de</strong>scaracteriza o conceito <strong>de</strong> <strong>migrante</strong>. [...]<br />

Mas é claro que eu sou... eu... eu sou um <strong>migrante</strong><br />

em busca <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida 54 .<br />

O “ganhar a vida na cida<strong>de</strong>” explicita <strong>uma</strong> representação pública<br />

<strong>de</strong> <strong>migrante</strong> da qual, inicialmente, o Sr. Mauro <strong>de</strong>seja distinguir-se<br />

e com a qual não quer ser confundido. Ele não é o <strong>migrante</strong> sem<br />

profissão, <strong>de</strong> baixa escolarida<strong>de</strong>, interiorano e sem ocupação garantida<br />

no mercado formal <strong>de</strong> trabalho. Ele teria vindo em busca <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> vida para a família 55 , e essa é a singularida<strong>de</strong> que, segundo pensa, o<br />

<strong>de</strong>scaracteriza, mas ao mesmo tempo justifica a sua reivindicação para<br />

<strong>uma</strong> nova conceituação <strong>de</strong> <strong>migrante</strong> joinvilense. Do seu lugar social,<br />

lança outros argumentos para elucidar a questão.<br />

Filho <strong>de</strong> um médico da Aeronáutica, “muito mais médico do que<br />

militar”, teve <strong>uma</strong> infância e juventu<strong>de</strong> “típica da classe média carioca”.<br />

Formou-se em Medicina em 1977 e concluiu mestrado em 1984. Nunca<br />

havia imaginado sair do Rio <strong>de</strong> Janeiro até partir para a Inglaterra<br />

(Birmingham) para doutorar-se. Anos <strong>de</strong>pois, retornou. Trabalhou em<br />

53 PINHO, Mauro <strong>de</strong> Souza. Depoimento. entrevista concedida a Fernando Cesar sossai e<br />

ilanil Coelho. <strong>Joinville</strong>, 8 <strong>de</strong>z. 2009.<br />

54 Id. Ibid.<br />

55 É casado com Nélvia Pinheiro, com quem tem <strong>uma</strong> filha, Emanuela Pinho, <strong>de</strong> 21 anos.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!