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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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e em que, a cada assunto abordado, os significados e os trânsitos<br />

das subjetivida<strong>de</strong>s se davam a ler <strong>de</strong> maneira explícita. As “pouco<br />

pertinentes”, por outro lado, eram aquelas que, no final, confrontavam<br />

tais critérios. Os enredos, difusos e lacunares <strong>de</strong>mais, pareciam frustrar<br />

as minhas expectativas em torná-las interpretáveis.<br />

A historiadora Verena Alberti lembra que, n<strong>uma</strong> entrevista, o<br />

entrevistado precisa dar conta <strong>de</strong> transformar lembranças, personagens<br />

e acontecimentos em linguagem: “Conhecimentos e idéias tornam-se<br />

realida<strong>de</strong> à medida que, e porque, se fala. O sentido se constrói na própria<br />

narrativa; por isso se diz que ela constitui (no sentido <strong>de</strong> produzir)<br />

racionalida<strong>de</strong>s”. A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r com <strong>uma</strong> narrativa emerge<br />

quando ela “vai além do caso particular”, fornecendo elementos para<br />

a compreensão <strong>de</strong>sse “além do caso particular” 52 . A relevância <strong>de</strong><br />

<strong>uma</strong> narrativa estaria, pois, no cuidado interpretativo diante dos sinais<br />

emitidos pelos movimentos do trabalho da linguagem empreendido<br />

pelo entrevistado. Quão enganosas foram as avaliações prematuras que<br />

fiz <strong>de</strong> alg<strong>uma</strong>s entrevistas... Foi justamente nas explicações difusas,<br />

nas lacunas audíveis e nos <strong>de</strong>scompassos <strong>de</strong> significados e conceitos<br />

que pu<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o árduo trabalho da linguagem que move os<br />

entrevistados. Faltava-me ir além da superfície da narrativa e lidar, no<br />

conjunto, com enredos em elipses.<br />

“Memórias e vivências enredadas da cida<strong>de</strong> <strong>migrante</strong>” busca<br />

exprimir a intenção <strong>de</strong> entrelaçar “A diversida<strong>de</strong> como espetáculo” e<br />

“Quando o assunto é migração...” com as narrativas orais enredadas.<br />

Em outras palavras, ao atentar para como “o aqui e o lá” e “o agora e<br />

o antes” <strong>de</strong>slizam nas e pelas narrativas <strong>de</strong> memória, objetivo ampliar<br />

o <strong>de</strong>bate e confrontar i<strong>de</strong>ias, pretensões, práticas e discursos voltados<br />

a enunciações históricas coesas e homogêneas, em que a diferença,<br />

sob impulso dos fluxos migratórios, é sequestrada e exposta como um<br />

mosaico inerte, bastante disponível, para <strong>de</strong>leite ou aflição.<br />

3.2 TRAVESSIAS<br />

Quais sentidos e categorias po<strong>de</strong>m ser apreendidos pela<br />

interpretação histórica, presentes nas narrativas sobre as memórias <strong>de</strong><br />

52 ALBERTI, Verena. ouvir contar: textos em história oral. Rio <strong>de</strong> Janeiro: FGV, 2004b. p.<br />

79.

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