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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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Em segundo lugar, conforme Santos, os cientistas são escritores<br />

que disponibilizam sua obra aos outros, críticos indistintos. Isso sinaliza<br />

que, pelo conhecimento, sujeitos relacionam-se com sujeitos. Ora, o<br />

<strong>de</strong>safio da investigação científica seria, pois, tentar “dialogar com outras<br />

formas <strong>de</strong> conhecimento <strong>de</strong>ixando-se penetrar por elas” 15 . No diálogo<br />

com o conhecimento dos críticos indistintos, a recompensa da ciência<br />

não mais seria buscar superá-lo, mas converter-se nele.<br />

A par <strong>de</strong>ssa reflexão, busco exprimir, do meu lugar, a minha<br />

vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> saber e também o caráter subjetivo (epistemologicamente<br />

concebido) <strong>de</strong>ste trabalho. Opto por escrevê-lo na primeira pessoa<br />

do singular. Porém é do nós, primeira pessoa do plural, coberto por<br />

sombras entrecruzadas, que busquei extrair a problemática, dar sentido<br />

às possíveis contribuições dos resultados da investigação e travar diálogo<br />

com outros conhecedores que como eu tentam não apenas usufruir das<br />

sombras, mas também saber como se formaram e se formam como tais.<br />

O “nós” a que me refiro são os joinvilenses natos ou não, moradores<br />

ou viandantes <strong>de</strong> <strong>uma</strong> cida<strong>de</strong> contemporânea, <strong>uma</strong> cida<strong>de</strong> <strong>migrante</strong>; um<br />

local único e plural que nos faz sombra.<br />

A minha investigação procurará levantar, inserir e discutir<br />

práticas e representações relacionadas aos fluxos migratórios e aos<br />

<strong>migrante</strong>s que, entrelaçadas, possibilitam compreen<strong>de</strong>r alg<strong>uma</strong>s das<br />

transformações culturais <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong> entre os anos <strong>de</strong> <strong>1980</strong> e 2009.<br />

Ainda que o tema seja assim sintetizado, é preciso <strong>de</strong>stacar que<br />

a movimentação em meio a documentos, as idas e vindas a diferentes<br />

territórios urbanos e o exercício <strong>de</strong> escrita constituíram intrincadas e<br />

sinuosas experiências. Isso porque, ao perseguir meus objetivos e ao<br />

cumprir percursos planejados previamente, diferenças <strong>de</strong> toda or<strong>de</strong>m<br />

<strong>de</strong>safiavam a exequibilida<strong>de</strong> do trabalho. A operação historiográfica<br />

tornou, assim, a lida com novos (<strong>de</strong>s)conhecimentos sobre o passado e o<br />

presente da cida<strong>de</strong> e dos seus moradores não apenas meio para um fim,<br />

mas o cerne (processo) pelo qual pu<strong>de</strong> extrair a significância abrangente<br />

do trabalho. A título <strong>de</strong> exemplo, a problematização <strong>de</strong> <strong>Joinville</strong> como<br />

cida<strong>de</strong> <strong>migrante</strong> fez com que os primados quantitativos ou mesmo<br />

as clivagens hierarquizadas das práticas sociais e das temporalida<strong>de</strong>s<br />

fossem sistematicamente <strong>de</strong>sestabilizados e <strong>de</strong>scentrados à medida<br />

que eu <strong>de</strong>parava com o que os documentos, discursos e narrativas<br />

exprimiam (ou não) acerca dos termos para significá-los ou lhes atribuir<br />

importância.<br />

15 SANTOS, Boaventura <strong>de</strong> Sousa. Op. cit. p. 70.<br />

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