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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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lado. Não é possível ao historiador falar “em nome <strong>de</strong>”, mas, dialogando<br />

com discursos que se suportam pelas assinaturas 37 , procurar construir<br />

<strong>uma</strong> inteligibilida<strong>de</strong> sobre o passado que chega pelo presente, ainda<br />

que essa inteligibilida<strong>de</strong> lance muito mais dúvidas do que respostas e<br />

suscite novas hipóteses em <strong>de</strong>trimento da confirmação <strong>de</strong> outras. Não<br />

há verda<strong>de</strong>s nem mentiras; há sim <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> (e <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r)<br />

agenciados pelo tempo presente, e eles atravessam as fontes escritas,<br />

orais e o discurso do próprio historiador.<br />

Sarlo <strong>de</strong>staca que “o tempo próprio da lembrança é o presente:<br />

isto é, o único tempo apropriado para lembrar e, também, o tempo do<br />

qual a lembrança se apo<strong>de</strong>ra, tornando-o próprio” 38 . Isso significa que<br />

é preciso consi<strong>de</strong>rar na análise das narrativas <strong>de</strong> memória “em que<br />

presente se narra, em que presente se rememora e qual é o passado que<br />

se recupera” 39 . As palavras da autora remetem mais <strong>uma</strong> vez às reflexões<br />

propostas por Michel <strong>de</strong> Certeau, pois até que ponto a narração não se<br />

constitui como <strong>uma</strong> das maneiras <strong>de</strong> fazer do narrador, cujas astúcias<br />

têm como visagem persuadir seus interlocutores sobre o significado que<br />

ele (o narrador) ocupa no presente e quer assegurar no futuro?<br />

Por mais repetitiva que possa parecer a afirmação <strong>de</strong>ssa i<strong>de</strong>ia na<br />

minha escrita, nela me apoio para esclarecer mais alguns pontos no meu<br />

itinerário metodológico: <strong>de</strong> quais lugares fala o sujeito? Qual a relação<br />

que se po<strong>de</strong> estabelecer entre esses lugares com aquilo que narra? Qual<br />

o presente que ele olha para fabricar o passado como narrativa, incluindo<br />

suas memórias sobre a migração?<br />

Se a narrativa da memória é marcada pelo <strong>de</strong>sejo “realistaromântico”<br />

40 <strong>de</strong> coerência entre presente e passado e se, ainda, por<br />

ela se move a pretensão <strong>de</strong> reparar as ausências (<strong>de</strong> personagens e<br />

37 Sarlo, ao trazer as críticas <strong>de</strong> vários autores acerca das verda<strong>de</strong>s subjetivas que supostamente<br />

estariam presentes nos relatos autobiográficos, afirma que “não há relato capaz <strong>de</strong> dar unida<strong>de</strong><br />

ao eu ou valor <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> ao empírico”. Assim, “o sujeito que fala é <strong>uma</strong> máscara ou <strong>uma</strong><br />

assinatura”, por mais que busque persuadir o ouvinte ou o leitor. Fundamentando-se em Paul<br />

Ricoeur, observa: “Não é só no caso do Holocausto que o testemunho exige que seus leitores<br />

ou ouvintes contemporâneos aceitem sua veracida<strong>de</strong> referencial, pondo em primeiro plano<br />

argumentos morais apoiados no respeito ao sujeito que suportou os fatos sobre os quais fala.<br />

Todo testemunho quer ser acreditado, mas nem sempre traz em si mesmo as provas pelas<br />

quais se po<strong>de</strong> comprovar sua veracida<strong>de</strong>; elas <strong>de</strong>vem vir <strong>de</strong> fora”. SARLO, Beatriz. Op. cit.<br />

p. 32-37.<br />

38 Id. Ibid. p. 10.<br />

39 Id. Ibid. p. 48.<br />

40 Id. Ibid. p. 51.

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