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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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subjetivida<strong>de</strong>s, acabaram imprimindo aos relatos <strong>de</strong> memória um papel<br />

duplamente re<strong>de</strong>ntor e, ao mesmo tempo, contraditório: achacar as i<strong>de</strong>ias<br />

<strong>de</strong> coisificação e alienação do sujeito, construindo “Sujeitos Múltiplos”,<br />

e, na impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “sustentar <strong>uma</strong> Verda<strong>de</strong>”, abstrair verda<strong>de</strong>s<br />

i<strong>de</strong>ntitárias dos discursos <strong>de</strong>sses sujeitos múltiplos.<br />

Vou me <strong>de</strong>ter em alg<strong>uma</strong>s questões levantadas por Sarlo que<br />

consi<strong>de</strong>ro importantes para a problemática e a abordagem das narrativas<br />

<strong>de</strong> <strong>migrante</strong>s.<br />

Primeiramente, acredito que Sarlo está certa quando afirma ser<br />

necessária “a crítica da verda<strong>de</strong> da voz e <strong>de</strong> sua ligação com <strong>uma</strong> verda<strong>de</strong><br />

da experiência que [supostamente] afloraria no testemunho” 35 , levando<br />

em conta as regras que se aplicam a outros discursos.<br />

Em história oral, a condição dialógica entre historiador e fontes<br />

impõe ao primeiro o exercício da imaginação que, como diz Sarlo,<br />

“abandonando o próprio território”, o leve a procurar interpretações<br />

<strong>de</strong>sconhecidas, as quais fazem emergir um sentido diante <strong>de</strong><br />

“experiências <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nadas, contraditórias e, em especial, resistentes a<br />

se ren<strong>de</strong>r à idéia simples <strong>de</strong>mais que elas são conhecidas porque foram<br />

suportadas” 36 .<br />

Acredito que a autora não quer dizer que o historiador, ao<br />

exercitar sua imaginação, <strong>de</strong>va renunciar ao seu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> saber, movido<br />

pela busca <strong>de</strong> inteligibilida<strong>de</strong> do passado. Pelo contrário, encorajao<br />

a enfrentar os dilemas <strong>de</strong>ssa busca. Na contemporaneida<strong>de</strong>, seria<br />

preciso problematizar radicalmente o “<strong>de</strong>ver <strong>de</strong> memória” e o “direito<br />

à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>”, reivindicados pelos narradores, por mais dolorosos<br />

que sejam os acontecimentos por eles relatados. A memória po<strong>de</strong>ria<br />

ser tomada no impulso moral <strong>de</strong> restituir publicamente experiências<br />

soterradas, tornando-se por isso fonte privilegiada para o conhecimento<br />

do passado. Porém em que medida a operação historiográfica suportaria<br />

a contradição <strong>de</strong> ter <strong>de</strong> isolar e afirmar como verda<strong>de</strong> o que é <strong>de</strong>sejado<br />

pelas artimanhas do discurso oral em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> outros discursos?<br />

Isso ganha relevância especial para os meus propósitos.<br />

Respon<strong>de</strong>ndo a tal questionamento, procuro escrever <strong>uma</strong> história em<br />

três capítulos e não o contrário. As narrativas <strong>de</strong> <strong>migrante</strong>s, por mais<br />

que reivindiquem o direito à memória e o direito a <strong>Joinville</strong>, não são por<br />

mim tomadas como um contraponto moral à memória organizada pelas<br />

festas ou mesmo pelos discursos historiográficos que as <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong><br />

35 SARLO, Beatriz. Op. cit. p. 38.<br />

36 Id. Ibid. p. 41.

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