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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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referenciam, bem como aos acontecimentos e lugares ressignificados<br />

nos próprios atos narrativos.<br />

Diferentes tempos e espaços, processos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação, <strong>de</strong>sejos e<br />

projetos <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> são alg<strong>uma</strong>s das dimensões que pretendo interpretar,<br />

levando em conta os lugares bastante movediços que os narradores<br />

<strong>de</strong>marcam à medida que, no percurso da entrevista, âncoras simbólicas<br />

vão sendo fun<strong>de</strong>adas para o relato <strong>de</strong> suas experiências. Explicando-me<br />

melhor, alguns dos entrevistados, a partir <strong>de</strong> seus lugares profissionais<br />

ou empregatícios, falaram da “cida<strong>de</strong> trabalho”. Em outros momentos,<br />

como moradores <strong>de</strong> bairro, falaram sobre os limites da “Cida<strong>de</strong> das<br />

Flores”. Houve ainda aqueles que explicaram a “cida<strong>de</strong> germânica” com<br />

base em suas filiações ou orfanda<strong>de</strong>s étnicas.<br />

Religiosida<strong>de</strong>s, lazeres e diagnósticos sobre a migração e as<br />

transformações das vivências cotidianas igualmente suscitam análises<br />

não apenas sobre o que é <strong>de</strong>finido como real do passado e do presente<br />

urbanos, mas também sobre as possibilida<strong>de</strong>s visadas <strong>de</strong> outros<br />

passados e presentes. A título <strong>de</strong> exemplo, alguns dos entrevistados,<br />

ao narrar sobre movimentos reivindicatórios, <strong>de</strong> ocupação territorial ou<br />

<strong>de</strong> orientação sexual, substituíram a primeira pessoa do singular pela<br />

primeira pessoa do plural, procurando dar visibilida<strong>de</strong> e importância<br />

social às suas escolhas, às suas verda<strong>de</strong>s e às suas ações para a história<br />

da cida<strong>de</strong>.<br />

O historiador Michael Pollak, em artigo publicado em 1992,<br />

ensina que pessoas, acontecimentos e lugares são elementos constitutivos<br />

da memória individual (e também coletiva). Porém tais elementos<br />

são organizados pelo trabalho <strong>de</strong> seleção, submetido a flutuações,<br />

transformações e mudanças, ligado ao presente em que é estruturado.<br />

<strong>Pelas</strong> narrativas, as pessoas buscariam construir representações para<br />

si próprias e, principalmente, para serem percebidas da maneira como<br />

querem ser percebidas pelos outros. Ou seja, as narrativas <strong>de</strong> memórias<br />

são atravessadas por disputas e negociações, impondo ao historiador<br />

“levar ainda mais a sério a crítica das fontes” 30 .<br />

No meu ponto <strong>de</strong> vista, a reflexão <strong>de</strong> Beatriz Sarlo sobre a<br />

questão aberta por Pollak é extremamente valiosa, sob dois aspectos.<br />

Durante os anos 1990 as críticas acerca da valida<strong>de</strong> das fontes orais<br />

foram respondidas na forma <strong>de</strong> publicações <strong>de</strong> inúmeros artigos e<br />

livros e pelo acentuado <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> pesquisas que utilizaram<br />

30 POLLAK, Michael. Memória e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> social. estudos Históricos, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 5,<br />

n. 10, p. 200-215, 1992. p. 207.

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