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Pelas tramas de uma cidade migrante (Joinville, 1980-2010)

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possam estar à disposição da filosofia <strong>de</strong> outros”, o que transforma a<br />

narração na memória <strong>de</strong> um “ato interpretativo” 23 , sinalizando tanto<br />

a subjetivida<strong>de</strong> do narrador como as subjetivida<strong>de</strong>s daqueles que ele<br />

referencia. A tarefa do historiador consistiria em discernir as regras e<br />

os procedimentos <strong>de</strong> forma a compreen<strong>de</strong>r e utilizar tais subjetivida<strong>de</strong>s<br />

à luz das questões éticas que atravessam o trabalho <strong>de</strong> campo, a<br />

interpretação e a prática da restituição.<br />

A “ética do trabalho <strong>de</strong> campo” envolve o saber ouvir o que o<br />

entrevistado consi<strong>de</strong>ra importante dizer, ainda que não seja o que se<br />

quer ouvir. A explicitação, quando necessária, <strong>de</strong> discordância entre<br />

pontos <strong>de</strong> vista e a disposição em também falar algo sobre si ou sobre o<br />

próprio trabalho são aspectos que contribuem para <strong>de</strong>linear e promover<br />

a igualda<strong>de</strong> na diferença (e vice-versa) no encontro entre pessoas que<br />

buscam apren<strong>de</strong>r e compartilhar suas experiências.<br />

A “ética da interpretação” invoca a responsabilida<strong>de</strong> dos<br />

historiadores nos momentos em que analisam e utilizam as narrativas<br />

<strong>de</strong> memória. O uso <strong>de</strong> citações <strong>de</strong>ve promover <strong>uma</strong> “espiral <strong>de</strong><br />

interpretações” 24 capaz <strong>de</strong> levar à compreensão dos sentidos das<br />

escolhas manifestados na escrita historiográfica. Aí resi<strong>de</strong> a dimensão<br />

dialógica intrínseca, na qual, segundo Portelli, “nossas interpretações e<br />

explicações coexistem com as interpretações contidas nas palavras que<br />

reproduzimos <strong>de</strong> nossas fontes e, ainda, com as interpretações que os<br />

leitores <strong>de</strong>las fazem” 25 .<br />

Diante do pluralismo <strong>de</strong> enunciados e significados, entendo que o<br />

que Portelli propõe coinci<strong>de</strong> com o preconizado por Michel <strong>de</strong> Certeau<br />

acerca dos <strong>de</strong>sdobramentos do discurso histórico. A autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse<br />

discurso se sustentaria ao representar as relações <strong>de</strong> coexistência como<br />

relações <strong>de</strong> coerência, ou seja, “combina no singular do saber, citando<br />

o plural dos documentos citados” 26 . Ao compreen<strong>de</strong>r os seus outros,<br />

transforma explicações em interpretações, instituídas no processo que,<br />

por sua vez, tem como principal característica a relação do lugar do<br />

conhecimento com a sua exteriorida<strong>de</strong>.<br />

23 PORTELLI, Alessandro. A filosofia e os fatos – narração, interpretação e significado nas<br />

memórias e nas fontes orais. tempo, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 1, n. 2, p. 59-72, 1996. p. 60.<br />

24 PORTELLI, Alessandro, 1997. Op. cit. p. 29.<br />

25 Id. Ibid. p. 27.<br />

26 CERTEAU, Michel <strong>de</strong>. a escrita da história. Tradução <strong>de</strong> Maria <strong>de</strong> Lur<strong>de</strong>s Menezes. Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro: Forense, 1982. p. 100.

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